quinta-feira, 14 de abril de 2016

Carlos Sarabando: O homem não pode ser uma ilha na sociedade

Carlos Sarabando Bola
Carlos Sarabando Bola, 76 anos, casado com Maria Madalena Gonçalves Anastácio, a sua Lena, dois filhos e netos, foi agraciado pela Câmara Municipal de Ílhavo no Dia do Município, segunda-feira da Páscoa, com uma condecoração honorífica — Medalha do Concelho em Vermeil —, por se dedicar «desde muito novo ao voluntariado, dando o melhor de si na construção de um Município sólido e próspero, através da sua participação ativa em várias associações culturais, sociais, desportivas e religiosas, em que foi dirigente, sempre com o espírito de serviço à comunidade e inquestionável amor à causa», como reza a nota lida na cerimónia camarária.
«O mérito que me foi atribuído pela CMI não é só meu porque devo muito à minha mulher, a Lena, que me acompanha na vida com o seu apoio; quantas vezes, quando eu estava desanimado e com vontade de sair de tantas ocupações, era ela que me estimulava a continuar, dando-me uma força especial para eu prosseguir», garante-nos o Carlos Sarabando.


O Carlos entra muito cedo no mundo do trabalho, como ditavam as regras do tempo para quem não estava previsto, no âmbito familiar, prosseguir estudos. Completada a 4.ª classe, dá os primeiros passos numa serração perto de sua casa e aos 12 anos já servia os oficiais da construção civil na firma dos Irmãos Sardos, João e Jeremias. Ia a pé para as obras na Costa Nova e noutras zonas das Gafanhas e aos 13 salta para a Metalo Mecânica, uma empresa metalúrgica, junto à passagem de nível de Esgueira, onde aprende a arte de torneiro mecânico. Aos 15 anos ingressa no escritório daquela firma de João Maria Vilarinho, reconhecendo que foi uma mudança que alteraria significativamente toda a sua vida. Um ano depois é transferido para os escritórios da empresa de pesca do mesmo proprietário, sita na Gafanha da Nazaré. Esta história de trabalho e de esforço de um jovem com a 4.ª classe mostra à evidência a vida dura de há mais de 60 anos. Currículo de que o Carlos se orgulha e que relata com sinais de alguma emoção.
Aos 17 anos, sente que tem de estudar e matricula-se na EICA (Escola Industrial e Comercial de Aveiro), com aulas noturnas, enfrentando alguma resistência do pai. Tinha mais filhos e não podia suportar os estudos de todos, mas o Carlos lá o convenceu, continuando a entregar, mês a mês, o seu ordenado em casa, hábito daquela época. E quando chega a hora do serviço militar, que cumpre na Figueira da Foz, Porto e Aveiro, durante 30 meses, nunca deixa de trabalhar nas horas vagas na empresa João Maria Vilarinho. Completa o Curso Geral do Comércio, que o habilitou para outros voos, em 1975. Mais tarde, assume responsabilidades como Técnico Oficial de Contas nas mais diversificadas empresas comerciais e industriais da região.
Paralelamente às suas tarefas profissionais, que subiu degrau a degrau, numa ânsia de mais e melhor, para si e para os seus, o Carlos Sarabando envolve-se em instituições, numa postura de voluntariado, já que nunca exigiu benesses. Leva assim à prática «o contributo de que a sociedade precisa, pois dela muito recebemos e muito temos de lhe dar».
O nosso entrevistado esteve ativo como dirigente no Stella Maris da Obra do Apostolado do Mar, com a construção do atual edifício, mantendo-se em funções nas Cooperativas Elétrica e Cultural, bem como na Rádio Terra Nova. Ainda exerceu funções na Fundação Prior Sardo, na Comissão Fabriqueira da paróquia da Gafanha da Nazaré, no Grupo Desportivo da Gafanha e na Filarmónica Gafanhense. A nível concelhio, tem compromissos na Associação dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo e é sócio no Rotary Clube de Ílhavo. Politicamente foi presidente da Assembleia de Freguesia da Gafanha da Nazaré, mantendo-se como 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Municipal de Ílhavo.
Durante a entrevista, Carlos Sarabando Bola sublinha que «o homem não pode ser uma ilha na sociedade, mas agente interveniente», porque sempre sentiu «a necessidade de estar disponível para ajudar e colaborar com toda a gente». «As pessoas não podem viver isoladas nem sozinhas», disse. E acrescenta: «Cada vez mais acho que as pessoas devem procurar estar em comunidade, porque só assim é que a vida pode ter sentido.»
Por outro lado, reconhece que «todos os homens devem ter uma intervenção política, mesmo quando não estão diretamente ligados a qualquer partido». E frisa que andou muitos anos «a fugir ao envolvimento partidário porque tinha muito trabalho e responsabilidades em empresas, mas um dia chegou a altura de aceitar liderar uma lista para a Assembleia de Freguesia, na qual ficou como presidente. Depois seguiu-se a Assembleia Municipal, onde se mantém.
Presentemente está numa fase de «passar pastas aos mais novos». «Temos de ter consciência de que os mais jovens têm o direito e o dever de dar o seu contributo à comunidade e nós temos a obrigação de os acompanhar e ajudar», afirmou.

Fernando Martins

Nota: Entrevista publicada no "Timoneiro"

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