domingo, 7 de abril de 2013

FILARMÓNICA GAFANHENSE - Historial atualizado


Introdução «««««««

A Filarmónica Gafanhense, a mais antiga colectividade musical do concelho de Ílhavo e herdeira do trabalho incansável de muitos ilhavenses, quer continuar a crescer, dinamizando o ensino da música e levando, bem longe, o nome das terras que a viram nascer, há mais de 170 anos. 
Sendo certo que uma banda se alimenta do esforço dos seus dirigentes, que dia a dia procuram atrair gente jovem que garanta o seu futuro, cada vez mais risonho e actuante, ao nível cultural, também é verdade que o empenho de todos, populações, autarcas e outras entidades, estatais e privadas, é fundamental e urgente. Com a cooperação amiga e solidária dos ílhavos, sejam eles da sede do concelho ou das Gafanhas, tudo se tornará mais fácil, no sentido de proporcionar à Música Velha (cognome que herdou de tempos áureos, que já lá vão há muito) as melhores condições para mais fazer pela cultura da rainha das artes, que é música. 
Urge, pois, que ilhavenses e gafanhões saibam unir esforços, numa linha de respeito pelas nossas tradições e pelo nosso passado histórico, que têm mostrado do que são capazes as nossas gentes, quando mutuamente se apoiam para alcançarem objectivos comuns. 
Nessa linha, a nova sede, ansiada por tantos dirigentes e associados, e prometida há anos pelas mais diversas forças políticas, virá contribuir, assim cremos, para que a Filarmónica Gafanhense ocupe um lugar de destaque no panorama musical regional e até nacional. 

I – Os primeiros passos da Phylarmonia Ilhavense 

Em 1836, nasce em Ílhavo a Phylarmonia Ilhavense, por iniciativa do magistrado António José da Rocha e do conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa, o qual, mais tarde, viria a ser Governador Civil de Aveiro. Eram amadores dramáticos e tinham organizado uma “Companhia” de curiosos que devia estrear-se num Teatro por eles construído numa dependência do Passal da freguesia, junto à igreja matriz da Ílhavo. 
Para o primeiro espectáculo, convidaram a Filarmónica da Fábrica da Vista Alegre, fundada em 1826, que faltou, à última hora, por imposição do director daquela fábrica, que era de política contrária à dos organizadores. 
Magoados com tal procedimento, aqueles ilhavenses encheram-se de brios e fundaram uma banda de música, tendo convidado para a dirigir José Vicente Soares, ex-regente de Bandas Militares, e, curiosamente, o primeiro regente da Banda da Vista Alegre. Depois deste, a Phylarmonia teve vários directores artísticos, nomeadamente Francisco dos Santos Barreto, que ocupou o cargo por mais tempo. Com a sua morte, a banda decaiu bastante, quase se extinguindo. 
Em 1885, porém, passou a ser dirigida por João Conceição Barreto, o qual contribuiu para novo baptismo da banda, que passou a designar-se por Sociedade Filarmónica Ilhavense. Adoptou nessa altura o cognome de Música Velha. Outros regentes se lhe seguiram. 
O padre João Rodrigues Franco, de Vagos, violinista distinto, acabou por abandonar a direcção artística da Filarmónica, por razões de saúde, não sem antes ter dado o seu melhor, no sentido de dotar a Filarmónica de uma organização capaz de lhe imprimir mais dignidade artística. Foi substituído por um espanhol, de apelido Serrano, imigrado político que vivia em Aveiro, que soube dar à banda uma modelar organização artística. 
Depois deste, vários regentes dirigiram a Sociedade Filarmónica Ilhavense. Manuel Procópio de Carvalho foi um deles. Contudo, com a sua saída inesperada, foi convidado para o cargo o ilhavense Diniz Gomes, que lhe imprimiu um bom nível artístico, tendo mesmo, mercê da posição política que exercia no concelho, adquirido subsídios para aquisição do instrumental. Com a saída deste regente, veio João da Rocha Carola, que muito contribuiu para que a banda pudesse executar brilhantes concertos, vocais e instrumentais, inclusive em serviços religiosos, muito em voga nessa época, e em festas diversas, um pouco por todo o lado. 
Marco Catarino, de Ílhavo, foi também regente, embora por pouco tempo, sendo substituído pelo seu conterrâneo Armando da Silva. No tempo deste regente, a Sociedade Filarmónica Ilhavense passou a denominar-se Associação Musical Filarmónica Ilhavense, tendo sido feito o seu registo no Governo Civil de Aveiro em 24 de Maio de 1934, conforme a Lei das Associações, datada de 14 de Fevereiro de 1907. 
Com a saída deste último regente, foi o cargo ocupado pelo Ilhavense João Marques Ramalheira, mais conhecido por professor Guilhermino, que, devido ao facto de ser professor do Ensino Primário, conseguiu muitos e bons aprendizes, chegando a banda, no seu tempo, a ter cerca de 50 executantes. 
Após a saída do professor Guilhermino Ramalheira, foi a regência assegurada pelo executante João Parada dos Santos (Balacó), de Vale de Ílhavo, que, por motivos de doença, não pôde dar à banda todo o tempo necessário. Por essa razão, e porque, aquando da saída do professor Guilhermino Ramalheira, ficara sem alguns dos seus melhores executantes, a Filarmónica Ilhavense decaiu um tanto. 
Em 1956, mestre José Vidal, de Vale de Ílhavo, assume a regência da Filarmónica, melhorando de forma significativa a afinação da banda, ao mesmo tempo que proporciona aos seus executantes a autoconfiança que já lhes ia faltando. 
Em 1961, José Vidal foi substituído por Manuel da Graça, também de Vale de Ílhavo. Este regente soube aproveitar o que mestre Vidal lhe deixara e conseguiu, graças ao seu apego ao trabalho, que a Filarmónica chegasse a ter 38 executantes. Mas o destino não era favorável a esta secular colectividade, e, em 1967, este lutador sucumbiu a uma doença grave, que lhe roubou a vida, num Sanatório do Caramulo. 
Foi convidado, então, para a regência, José Venâncio, de Vagos, músico excelente da Banda da Vista Alegre, que, nos cinco meses que ensaiou a Filarmónica Ilhavense, conseguiu dar-lhe uma boa afinação, aperfeiçoando muito a parte técnica e artística. Emigrou para os Estados Unidos da América, não podendo, por isso, continuar o bom trabalho que tinha iniciado, com muito entusiasmo. 
Sucedeu-lhe um executante e solista (fliscorne) José Ferreira Balseiro, da Quinta do Picado. Este reorganizou a banda, mas nela permaneceu por muito pouco tempo. O infortúnio pairava sobre a Música Velha de Ílhavo, tendo, com a saída deste último regente, em 1970, ocupado o cargo João da Fonseca, de Ílhavo. O desânimo começou a reinar nesta Sociedade Musical. Cada vez saíam mais executantes, a banda não se renovava, porque não tinha aprendizes, e em Fevereiro de 1972 esta “nau” fica novamente à deriva, sem timoneiro, isto é, sem o seu regente. 

II – A Música Velha não podia morrer 

A Música Velha não podia morrer. E para não morrer, tinha de mudar e de criar incentivos, atraindo aprendizes com vontade de continuarem na banda, depois de se tornarem executantes minimamente à altura. 
Tinha pouco mais de meia dúzia de executantes. Mas até esses, sentindo a falta de apoios à Filarmónica e o abandono da maioria, chegaram a perder algum entusiasmo. Os poucos que restavam eram de Vale de Ílhavo, Lavandeira, Moitinhos, Bonsucesso, Gafanhas e Ílhavo. Dois de Ílhavo, pouco tempo tocaram na Música Velha, que se viu sem ajudas de qualquer entidade ou instituição, e sem o trabalho de ilhavenses apaixonados por este género musical, de tantas e tão antigas tradições na vila. 
Em Abril de 1972, e numa última tentativa de salvar a Música Velha, os músicos que ainda permaneciam fiéis colocaram na regência um dos executantes resistentes. Dionísio Claro dos Santos Marta, natural de S. Salvador, Ílhavo, e residente na Gafanha da Nazaré, impôs apenas uma condição para aceitar o cargo: que fosse criada uma Escola de Música. Foi assim que o novo e inexperiente regente salvou a Filarmónica. Passou a deslocar-se a Ílhavo duas vezes por semana, para dar lições de música a novos aprendizes. 
Infelizmente, contudo, a breve trecho ficaria sozinho e sem aprendizes, já que, em Ílhavo, não havia quem quisesse aprender música. Mas se em Ílhavo se verificou o desinteresse total pela aprendizagem da música, com destino à banda, na Gafanha da Nazaré começaram a surgir jovens que queriam aprender e que almejavam vestir a farda da Filarmónica. 
Até meados de 1982 foram muitos os dirigentes que ficaram à frente da Associação. Nesse mesmo ano, no dia 30 de Abril, um grupo de cidadãos funda oficialmente a Escola de Música Gafanhense, na Gafanha da Nazaré, pois era nesta vila que apareciam jovens interessados em aprender música. 
O objectivo desta escola recém-criada, desprovida de sede social e em regime de coabitação com a Filarmónica Ilhavense, era a formação musical dos seus sócios, através do pagamento de uma quota simbólica anual. A escola e a banda tinham como principal preocupação a formação de novos músicos para a banda, trabalhando assim em estreita colaboração para o desenvolvimento cultural da Gafanha da Nazaré.   

III – Filarmónica Ilhavense (Música Velha) passa a Filarmónica Gafanhense 

Durante as décadas de 80 e 90 do século passado, os sócios e executantes da Filarmónica organizaram vários peditórios e desenvolveram diversas actividades culturais na vila da Gafanha da Nazaré e noutras localidades. Foi uma forma, com base pedagógica, de angariar fundos para alimentar o projecto de construção de uma sede social que albergasse as duas associações. Anos mais tarde, já a Escola de Música Gafanhense tinha bastantes sócios, uma determinada quantia em dinheiro e um património significativo, uma vez que tudo quanto se adquiria era posto a nome da escola de Música, eis que ainda se adquiriu um terreno que se escriturou a nome da escola para se construir uma sede para as duas associações. 
Em princípios de 1986, a Associação Musical Filarmónica Ilhavense (Música Velha) começou a festejar a passagem dos 150 anos da sua existência, e no dia 24 de Abril do mesmo ano, foi oficializada a sua constituição por uma escritura pública efectuada na Secretaria Notarial de Aveiro, titulando a existência de uma associação já desde 1836, agora denominada ASSOCIAÇÃO MUSICAL FILARMÓNICA ILHAVENSE, com sede na Vila e Concelho de Ílhavo, que passava a reger-se pelos estatutos então criados. 
Entretanto, várias iniciativas culturais continuaram a ser levadas a cabo, no âmbito das referidas comemorações, tendo sido lavrada, no dia 13 de Outubro de 1986, na Secretaria Notarial de Aveiro, uma nova escritura, desta vez para alteração dos estatutos. Com essa alteração, ficou estabelecida a mudança de sede social da Música Velha para a Gafanha da Nazaré. A Associação Musical Filarmónica Ilhavense passou a designar-se, estatutariamente, FILARMÓNICA GAFANHENSE, como veio exarado no Diário da República, nº 273, de 26 de Novembro de 1986. 

IV – O desinteresse de uns e o interesse de outros 

Uma página da história da Música Velha acaba de ser virada. O desinteresse de uns e o interesse de outros, com decisões tomadas em local próprio e pelos próprios interessados, para além das circunstâncias atrás referidas, culminam nestas alterações. É então criada a Filarmónica Gafanhense, instituição que, embora sedeada na Gafanha da Nazaré, é, sem dúvida, uma entidade cultural ao serviço do povo e do Concelho de Ílhavo, que muito o dignifica. 
Das eleições realizadas em 18 de Junho de 1999, sai vitoriosa uma nova direcção para a Escola de Música Gafanhense, a qual redefine e clarifica a sua situação de coabitação com a Filarmónica Gafanhense, que até então tinha como sede provisória a casa de Dionísio dos Santos Marta, onde se guardava todo o espólio de ambas as colectividades. Foi decidido dar-se um novo rumo à Escola, procedendo-se, assim, à separação definitiva das duas associações. 
Tendo estas duas associações diferentes direcções, existia, teoricamente, uma ponte de informação e ligação entre ambas. Era ela Dionísio dos Santos Marta, elemento comum às duas direcções e conhecedor dos diferentes estatutos, ignorados, em parte, pelos sócios da Filarmónica Gafanhense. Os seus directores, os únicos sócios da mesma, eram os músicos executantes, que regiam as duas associações. 
Em 24 de Setembro de 2001, Dionísio Claro dos Santos Marta, devido a divergências com o novo presidente da direcção da Filarmónica Gafanhense (Música Velha), eleito em Fevereiro do ano anterior, abandona esta associação e os cargos de director artístico e de presidente da Assembleia Geral da mesma. 
Com a separação destas duas instituições, a Filarmónica Gafanhense (Música Velha) volta à estaca zero, no referente ao projecto de construção da sua sede e de ter uma escola de música na sua estrutura, para assim poder contar sempre com mais e melhores executantes. 
A partir desta altura, a colectividade recomeçou a trabalhar, no sentido de aumentar a sua credibilidade artística, cultural e social, bem como de servir a população da Gafanha da Nazaré e o Concelho de Ílhavo, com mais amor e dedicação. 
Há jovens que por aqui passaram como aprendizes, sendo alguns, presentemente, músicos profissionais, com cursos superiores de música, que muito têm dignificado a nossa terra. 

V – A Filarmónica Gafanhense (Música Velha) não pode parar 

A Filarmónica Gafanhense não pode parar. Executaram-se várias reformas e houve melhorias nas partes melódicas, harmónicas, percussão e até visual. Entre 1985 a 1990, todo o instrumental foi substituído por novas aquisições, tendo por base o “Lamiré normal”. 
Em 2001, após convite formal, assumiu o cargo de director artístico o conhecido músico Arnaldo Manuel Seiça Ribeiro, da Gafanha de Aquém, freguesia de S. Salvador, Ílhavo, onde nasceu em 1957. Iniciou os seus estudos musicais de solfejo e clarinete em 1964, sob orientação de seu pai, músico executante de clarinete na Filarmónica Ilhavense. De 1965 a 1969, frequentou as classes de solfejo e acordeão, sob a orientação da professora Rosa da Silva Matos, participando, enquanto aluno desta professora, em espectáculos públicos, em diferentes localidades. Entre os anos de 1969 a 1971, integrou a Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo (Música Nova), como executante de clarinete, sob a direcção de Luís Catão. Em 1980, ingressa no Conservatório de Música de Aveiro “Calouste Gulbenkian”, na classe de piano e composição. Entre os anos de 1971 e 1999, integra grupos musicais de diferentes estilos, tendo efectuado diversos concertos por todo o País. 
Participou em vários festivais de música ligeira, como compositor e intérprete, tendo efectuado inúmeros registos, gravando discos e participando em espectáculos ao vivo, com cantores de música ligeira. Leccionou a disciplina de Expressão e Educação Musical no ensino oficial desde 1981, tendo sido professor titular da classe de Acordeão no Conservatório de Aveiro, entre 1986 a 1989. Em paralelo, tem desenvolvido funções pedagógicas nas áreas da formação musical, em piano, órgão e acordeão. Frequentou o Curso de Direcção de Bandas com o professor Robert Houlihan. 
A partir de Novembro de 2003, Fernando Manuel Tavares Lages, nascido a 18 de Junho de 1962, na Freguesia da Junqueira, Concelho de Vale de Cambra, assumiu a direcção artística da Filarmónica Gafanhense. Iniciou os seus estudos musicais na banda da sua terra, com 13 anos de idade, tendo ingressado na Banda de Música da então Região Militar Centro, sedeada em Coimbra, em 1979, aos 17 anos, como voluntário, onde permaneceu até 1982. 
Durante vários anos passou por outras bandas militares e em 1998 foi convidado a assumir a direcção artística da Banda Recreativa União Pinheirense, onde permaneceu durante quatro anos. Em 2002, frequentou o curso de direcção de banda orientado pelos professores Robert Houlihan, Adelino Mota e Carlos Marques. 

VI – A Filarmónica Gafanhense (Música Velha) 

No âmbito de uma parceria estabelecida com a Câmara Municipal de Ílhavo e do reconhecimento da capacidade de a colectividade assumir e gerir compromissos de relevância cultural, a autarquia ilhavense concedeu, em Março de 2005, em sessão solene, à FILARMÓNICA GAFANHENSE (Música Velha), a Medalha de Ouro do Concelho, sendo a mais alta condecoração Municipal entregue a esta instituição. 
Os dirigentes, executantes e sócios, tal como os autarcas do Concelho de Ílhavo, anseiam por uma sede social condigna para que esta colectividade, a mais antiga da região, possa, num futuro próximo, satisfazer os seus objectivos ligados à cultura musical. Sempre no sentido de cada vez mais procurar novos e grandes valores para a música, e de continuar a animar culturalmente a terra que a acolheu e o concelho a que pertence, e não só, durante muitos anos. 
No dia 14 de Março de 2006 foram eleitos os novos membros dos órgãos sociais, para o biénio 2006-2007, numa perspectiva de prosseguir o trabalho até ao presente desenvolvido, apostando, no entanto, em acompanhar a dinâmica dos tempos que correm, para bem da cultura musical. Os cargos ficaram assim distribuídos: 

Assembleia Geral 

Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola 
1º Secretário, João Paulo da Silva Nunes 
2º Secretário, António Fernandes Teixeira 

Conselho Fiscal 

Presidente, Manuel Santos Ribeiro 
Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos 
Vogal, Marco José Pereira Santos 

Direcção 

Presidente, Carlos Sarabando Bola 
Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola 
Secretário, Ana Paula Jesus Bola 
Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo 
Vogal, António Manuel Bernardino Santos 

Suplentes 

João Fernandes Teixeira 
Paulo Sérgio Oliveira Soares 
Pedro Manuel Gonçalves Ferreira 
Rosa Maria Nunes Paiva 
Hélio Ribau das Neves 

É justo salientar, ainda, que em Outubro de 2006 a Filarmónica Gafanhense foi inscrita no INATEL, ficando com o nº 4966. E em 2007, além do seu maestro Fernando Manuel Tavares Lages, a Filarmónica é constituída por 40 executantes, com idades compreendidas entre os nove e os 73 anos, distribuídos pelos mais diversos instrumentos. 
A formação de novos músicos está entregue aos professores Ricardo Paulo Ferreira Constantino, João Fernandes Teixeira, Paulo Renato Jesus Bola e Alcino Marçalo Santos Patoilo. 

VII – Reconhecimento feito pelo CMI – atribuição de Medalha de Mérito 

Em Abril de 2007, feriado Municipal de Ílhavo é atribuída a Medalha de Mérito Cultural em Prata ao cidadão e músico executante da Banda da Filarmónica Gafanhense (Música Velha), Senhor JOSÉ RODRIGO DA SILVA TORRÃO, pelos seus 52 anos de músico daquela Instituição 

VIII – Grupo Coral da Filarmónica Gafanhense (Música Velha) 

Em Abril de 2008, pela primeira vez, a Filarmónica Gafanhense, apresenta-se em público com o seu grupo coral, composto por cerca de quarenta Mulheres e Homens, iniciando a sua actividade conjunta no concerto realizado na inauguração do CENTRO CULTURAL DE ÍLHAVO, tendo como responsável a Prof. Eva Cristina Ribau, que muito tem contribuído para o sucesso e êxito deste coral, tendo-se realizado ao longo dos anos vários concertos de Natal e outras festividades. 

IX – Declaração de Utilidade Pública 

Pelo Despacho nº 14844/2009, publicado no Diário da República, 2ª Série Nº 126 de 2 de Julho de 2009, a Filarmónica Gafanhense, associação de direito privada, foi contemplada com a Declaração de Utilidade Pública nos termos do Decreto-Lei nº 460/77, de 7 de Novembro, com a redacção dada pelo Decreto-Lei nº 392/2007, de 13 de Dezembro. 

X – Novo Director Artístico da Filarmónica Gafanhense 

Em Fevereiro de 2011 é convidado novo Director Artístico para 
Dirigir os destinos da Filarmónica Gafanhense (Música Velha) o Professor JORGE PAULO MARGAÇA DOMINGUES, natural da Mamarrosa, nascido a 15 de Novembro de 1971. 
Iniciou os estudos musicais aos oito anos de idade com o seu tio Álvaro Ferreira. Aos onze anos, matricula-se no Conservatório de Música de Aveiro, onde concluiu em 1990 o curso complementar de Trompete, na classe do professor Kevin Wauldron. Mais tarde, no Conservatório de Música do Porto, obteve o Curso Completo de Trompete, pela Experiência Pedagógica de 1971. 
Tem-se apresentado em público com a Orquestra de Metais e Percussão do Porto e Sollemnium Concentus, ambos dirigidos pelo Dr. Ferreira dos Santos; com a Orquestra de Câmara de Aveiro, dirigida pelo maestro Duarte Neves, com o Grupo de Instrumentos de Sopro de Coimbra e ainda com vários agrupamentos de câmara, nomeadamente com os organistas António Mário e Nuno Alexandrino. 
Em 1992, foi convidado a participar como solista no Grupo de Instrumentos de Sopro de Coimbra, em digressão a Espanha, França e Itália. 
Em 1993 e 1994, ministrou cursos de formação para jovens músicos, a convite do Inatel de Coimbra. 
Foi director artístico da Orquestra de Metais e Percussão do Conservatório de Música de Aveiro e da Orquestra Ligeira do Conservatório de Música de Coimbra, de 1994 a 1998. 
Desempenha funções docentes, nas classes de Trompete e Música de Câmara, nos Conservatórios de Música de Aveiro, Coimbra, David de Sousa - Figueira da Foz, Regional de Coimbra, no Colégio São-Teotónio em Coimbra e na “Oficina de Música” de Aveiro. 
Durante vários anos foi orientador do Brass Ensemble, Grupo de Metais do Centro, com o qual realizou concertos por todo o País. 

XI – ACTUALIZAÇÃO DA DIRECÇÃO DA FILARMÓNICA GAFANHENSE (MÚSICA Velha) 

Na Assembleia Geral realizada em Fevereiro de 2008 foi apresentada uma nova lista para os corpos sociais da Instituição, para dirigirem os destinos da Instituição, tendo sido eleita por maioria com um voto em branco e um voto nulo, para o biénio 2008/2009, os seguintes associados: 

Assembleia Geral 

Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola 
1º Secretário, Dinis da Rocha Gandarinho 
2º Secretário, António Fernandes Teixeira 

Conselho Fiscal 

Presidente, Manuel dos Santos Ribeiro 
Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos 
Vogal, Dário Jorge Martins Camilo 

Direcção 

Presidente, Carlos Sarabando Bola 
Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola 
Secretário, Ana Paula Jesus Bola 
Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo 
Vogal, João Fernandes Teixeira 

Suplentes 

António Manuel Bernardino Santos 
Paulo Sérgio Oliveira Soares 
Hélio Ribau das Neves 
Oliveiros José Bola Marçalo 
António Abílio Soares Afonso 

XII – CRIAÇÃO DA PRÓPRIA ESCOLA DE MÚSICA 

Havendo necessidade de dar continuidade à formação de jovens músicos e como não houve possibilidades de contar com a participação na formação com a Escola de Música Gafanhense, uma vez que foi criada com o objectivo de ensinar e formar jovens músicos para a banda Filarmónica Gafanhense, conforme consta do objecto social daquela escola, em Outubro de 2012 a Filarmónica Gafanhense - Música Velha, criou a sua própria escola para ensinar e formar novos jovens músicos, contando com cerca de uma dezena de crianças de várias idades para aprenderem. 

XIII – ACTUALIZAÇÃO DA DIRECÇÃO DA FILARMÓNICA GAFANHENSE (MÚSICA VELHA) 

Na Assembleia Geral realizada no dia 23 de Fevereiro de 2013, foi actualizada a direcção da banda para os términos do biénio de 2012/2013, motivado pelo falecimento e pedido de demissão de alguns elementos, sendo substituídos pelos suplentes que se seguiam na lista, ficando a direcção constituída pelos seguintes associados: 

Assembleia Geral 

Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola 
1º Secretário, Dinis da Rocha Gandarinho 
2º Secretário, António Fernandes Teixeira 

Conselho Fiscal 

Presidente, José Alberto Branco das Neves 
Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos 
Vogal, Paulo Sérgio Oliveira Soares 

Direcção 

Presidente, Carlos Sarabando Bola 
Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola 
Secretário, Ana Paula Jesus Bola 
Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo 
Vogal, João Fernandes Teixeira 

Suplentes 

Oliveiros José Bola Marçalo 
António Abílio Soares Afonso 
Hélio Ribau das Neves 
José Ribau Teixeira



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Exposição "Diocese de Aveiro, presente e memória"


O património cultural da Igreja pode ser definido como o acervo de bens de mérito artístico, histórico, paleontológico, arqueológico, etnológico, científico, técnico, documental e bibliográfico; por isso, ele é constituído por valores materiais e imateriais, nos quais se consubstanciam legados de épocas anteriores. O fim específico dos bens culturais da Igreja Católica é o anúncio do Evangelho, o culto divino, a pedagogia da fé, a piedade dos fiéis e a promoção espiritual; por isso, o património da Igreja justifica-se na medida em que ele for ordenado àquele objetivo no exercício da missão da mesma Igreja, como instrumento útil e necessário, ou até indispensável. Tais obras, saídas do talento do homem, tendem assim a exprimir a infinita beleza de Deus e a orientar para o louvor e a glória do mesmo Deus.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Envelhecimento ativo: Uma urgência para o nosso tempo


1. Não é novidade para ninguém que os avanços extraordinários das ciências médicas e outras, associados às campanhas generalizadas e em atualização permanente, relacionadas com a alimentação regrada, com a higiene e estilos de vida saudáveis, muito têm contribuído para o aumento significativo da esperança de vida. No último século, o crescimento foi notório e isso foi muito bom, rondando presentemente os 80 anos, para homens e mulheres. 
Entre nós, tanto quanto se sabe, tendo em conta a implementação do chamado Estado Social, com o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, cresce exponencialmente e bem o número de aposentados e reformados, muito embora, e como é sabido, a grande maioria esteja a receber pensões insuficientes para uma vida digna. 
Pelas notícias vindas a lume, e sem querer entrar em seara alheia, que esse campo está entregue a académicos e demais estudiosos do tema, temos de convir que há cada vez mais idosos com baixíssimas fontes de rendimento e menos jovens e adultos no mundo do trabalho, de onde vêm as receitas para a sustentabilidade do Estado Social. Isso significa que, para os idosos, apesar da esperança de vida continuar em crescendo, a qualidade de vida não está nem estará tão cedo garantida, como se confirma, de forma insofismável, pela realidade. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Filarmónica Gafanhense - Subsídios para a sua história


A Filarmónica Gafanhense é uma instituição cuja história não pode cair no esquecimento. Sendo a mais antiga associação musical do concelho de Ílhavo, ela precisa de ficar assinalada como digna de mérito e do seu passado, com origem na sede do nosso município. Os registos históricos não podem escamotear a verdade. Por isso, neste escrito,  pude escrever o que foi possível averiguar. Urge, contudo, continuar a atualização dos dados, sem perder o fio à meada. Nessa linha, peço à atual direção e a outras pessoas elementos para que seja viável a sua sintetização. Fico, pois, a aguardar.


I — Introdução

A Filarmónica Gafanhense, a mais antiga coletividade musical do concelho de Ílhavo e herdeira do trabalho incansável de muitos ilhavenses, quer continuar a crescer, dinamizando o ensino da música e levando, bem longe, o nome das terras que a viram nascer, há mais de 170 anos. Sendo certo que uma banda se alimenta do esforço dos seus dirigentes, que dia a dia procuram atrair gente jovem que garanta o seu futuro, cada vez mais risonho e atuante, ao nível cultural, também é verdade que o empenho de todos, populações, autarcas e outras entidades, estatais e privadas, é fundamental e urgente. Com a cooperação amiga e solidária dos ílhavos, sejam eles da sede do concelho ou das Gafanhas, tudo se tornará mais fácil, no sentido de proporcionar à Música Velha (cognome que herdou de tempos áureos, que já lá vão há muito) as melhores condições para mais fazer pela cultura da rainha das artes, que é a música.
Urge, pois, que ilhavenses e gafanhões saibam unir esforços, numa linha de respeito pelas nossas tradições e pelo nosso passado histórico, que têm mostrado do que são capazes as nossas gentes, quando mutuamente se apoiam para alcançarem objetivos comuns. Nessa linha, a nova sede, ansiada por tantos dirigentes e associados, e prometida há anos pelas mais diversas forças políticas, virá contribuir, assim cremos, para que a Filarmónica Gafanhense ocupe um lugar de destaque no panorama musical regional e até nacional.

II — A Música Velha não podia morrer

A Música Velha não podia morrer. E para não morrer, tinha de mudar e de criar incentivos, atraindo aprendizes com vontade de continuarem na banda, depois de se tornarem executantes minimamente à altura. Tinha pouco mais de meia dúzia de executantes. Mas até esses, sentindo a falta de apoios à Filarmónica e o abandono da maioria, chegaram a perder algum entusiasmo. Os poucos que restavam eram de Vale de Ílhavo, Lavandeira, Moitinhos, Bonsucesso, Gafanhas e Ílhavo. Dois de Ílhavo, pouco tempo tocaram na Música Velha, que se viu sem ajudas de qualquer entidade ou instituição, e sem o trabalho de ilhavenses apaixonados por este género musical, de tantas e tão antigas tradições na vila.
Em Abril de 1972, e numa última tentativa de salvar a Música Velha, os músicos que ainda permaneciam fiéis colocaram na regência um dos executantes resistentes. Dionísio Claro dos Santos Marta, natural de S. Salvador, Ílhavo, e residente na Gafanha da Nazaré, impôs apenas uma condição para aceitar o cargo: que fosse criada uma Escola de Música. Foi assim que o novo e inexperiente regente salvou a Filarmónica. Passou a deslocar-se a Ílhavo duas vezes por semana para dar lições de música a novos aprendizes. Infelizmente, contudo, a breve trecho ficaria sozinho e sem aprendizes, já que, em Ílhavo, não havia quem quisesse aprender música. Mas se em Ílhavo se verificou o desinteresse total pela aprendizagem da música, com destino à banda, na Gafanha da Nazaré começaram a surgir jovens que queriam aprender e que almejavam vestir a farda da Filarmónica. Até meados de 1982 foram muitos os dirigentes que ficaram à frente da Associação. Nesse mesmo ano, no dia 30 de Abril, um grupo de cidadãos funda oficialmente a Escola de Música Gafanhense, na Gafanha da Nazaré, pois era nesta vila que apareciam jovens interessados em aprender música. O objetivo desta escola recém-criada, desprovida de sede social e em regime de coabitação com a Filarmónica Ilhavense, era a formação musical dos seus sócios, através do pagamento de uma quota simbólica anual. A escola e a banda tinham como principal preocupação a formação de novos músicos, trabalhando assim em estreita colaboração para o desenvolvimento cultural da Gafanha da Nazaré.


III —  Filarmónica Ilhavense passa a Filarmónica Gafanhense

Durante as décadas de 80 e 90 do século passado, os sócios e executantes da Filarmónica organizaram vários peditórios e desenvolveram diversas atividades culturais na vila da Gafanha da Nazaré e noutras localidades. Foi uma forma, com base pedagógica, de angariar fundos para alimentar o projeto de construção de uma sede social que albergasse as duas associações. Anos mais tarde, já a Escola de Música Gafanhense tinha bastantes sócios, uma determinada quantia em dinheiro e um património significativo, uma vez que tinha adquirido um terreno para se construir uma sede.
Em princípios de 1986, a Associação Musical Filarmónica Ilhavense começou a festejar a passagem dos 150 anos da sua existência, e no dia 24 de Abril do mesmo ano foi feita uma escritura na Secretaria Notarial de Aveiro, titulando a constituição de uma associação já existente desde 1836, agora denominada ASSOCIAÇÃO MUSICAL FILARMÓNICA ILHAVENSE, com sede na Vila e Concelho de Ílhavo, que passava a reger-se pelos estatutos então criados.
Entretanto, várias iniciativas culturais continuaram a ser levadas a cabo, no âmbito das referidas comemorações, tendo sido lavrada, no dia 13 de Outubro de 1986, na Secretaria Notarial de Aveiro, uma nova escritura, desta vez para alteração dos estatutos. Com essa alteração, ficou estabelecida a mudança de sede social da Música Velha para a Gafanha da Nazaré. A Associação Musical Filarmónica Ilhavense passou a designar-se, estatutariamente, FILARMÓNICA GAFANHENSE, como veio exarado no Diário da República, nº 273, de 26 de Novembro de 1986.


IV —  O desinteresse de uns e o interesse de outros

Uma página da história da Música Velha acaba de ser virada. O desinteresse de uns e o interesse de outros, com decisões tomadas em local próprio e pelos próprios interessados, para além das circunstâncias atrás referidas, culminam nestas alterações. É então criada a Filarmónica Gafanhense, instituição que, embora sedeada na Gafanha da Nazaré, é, sem dúvida, uma entidade cultural ao serviço do povo e do Concelho de Ílhavo, que muito o dignifica. Das eleições realizadas em 18 de Junho de 1999, sai vitoriosa uma nova direção para a Escola de Música Gafanhense, a qual redefine e clarifica a sua situação de coabitação com a Filarmónica Gafanhense, que até então tinha como sede provisória a casa de Dionísio dos Santos Marta, onde se guardava todo o espólio de ambas as coletividades. Foi decidido dar-se um novo rumo à Escola, procedendo-se, assim, à separação definitiva das duas associações. Tendo estas duas associações diferentes direções, existia, teoricamente, uma ponte de informação e ligação entre ambas. Era ela Dionísio dos Santos Marta, elemento comum às duas direções e conhecedor dos diferentes estatutos, ignorados, em parte, pelos sócios da Filarmónica Gafanhense. Os seus diretores, os únicos sócios da mesma, eram os músicos executantes, que regiam as duas associações.
Em 24 de Setembro de 2001, Dionísio Claro dos Santos Marta, devido a divergências com o novo presidente da direção da Filarmónica Gafanhense, eleito em Fevereiro do ano anterior, abandona esta associação e os cargos de diretor artístico e de presidente da Assembleia Geral da mesma. Com a separação destas duas instituições, a Filarmónica Gafanhense volta à estaca zero, no referente ao projeto de construção da sua sede e de ter uma escola de música na sua estrutura, para assim poder contar sempre com mais e melhores executantes. A partir desta altura, a coletividade recomeçou a trabalhar, no sentido de aumentar a sua credibilidade artística, cultural e social, bem como de servir a população da Gafanha da Nazaré e o Concelho de Ílhavo, com mais amor e dedicação. Há jovens que por aqui passaram como aprendizes, sendo alguns, presentemente, músicos profissionais, com cursos superiores de música, que muito têm dignificado a nossa terra.


V — A Filarmónica Gafanhense não pode parar

A Filarmónica Gafanhense não pode parar. Executaram-se várias reformas e houve melhorias nas partes melódicas, harmónicas, percussão e até visual. Entre 1985 a 1990, todo o instrumental foi substituído por novas aquisições, tendo por base o “Lamiré normal”. Em 2001, após convite formal, assumiu o cargo de diretor artístico o músico Arnaldo Manuel Seiça Ribeiro, da Gafanha de Aquém, freguesia de S. Salvador, Ílhavo, onde nasceu em 1957. Iniciou os seus estudos musicais de solfejo e clarinete em 1964, sob orientação de seu pai, músico executante de clarinete na Filarmónica Ilhavense. De 1965 a 1969, frequentou as classes de solfejo e acordeão, sob a orientação da professora Rosa da Silva Matos, participando, enquanto aluno desta professora, em espetáculos públicos, em diferentes localidades. Entre os anos de 1969 a 1971, integrou a Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo (Música Nova), como executante de clarinete, sob a direção de Luís Catão. Em 1980, ingressa no Conservatório de Música de Aveiro “Calouste Gulbenkian”, na classe de piano e composição. Entre os anos de 1971 e 1999, integra grupos musicais de diferentes estilos, tendo efetuado diversos concertos por todo o País. Participou em vários festivais de música ligeira, como compositor e intérprete, tendo efetuado inúmeros registos, gravando discos e participando em espetáculos ao vivo, com cantores de música ligeira. Lecionou a disciplina de Expressão e Educação Musical no ensino oficial desde 1981, tendo sido professor titular da classe de Acordeão no Conservatório de Aveiro, entre 1986 a 1989. Em paralelo, tem desenvolvido funções pedagógicas nas áreas da formação musical, em piano, órgão e acordeão. Frequentou o Curso de Direcção de Bandas com o professor Robert Houlihan.
A partir de Novembro de 2003, Fernando Manuel Tavares Lages, nascido a 18 de Junho de 1962, na Freguesia da Junqueira, Concelho de Vale de Cambra, assumiu a direção artística da Filarmónica Gafanhense. Iniciou os seus estudos musicais na banda da sua terra, com 13 anos de idade, tendo ingressado na Banda de Música da então Região Militar Centro, sedeada em Coimbra, em 1979, aos 17 anos, como voluntário, onde permaneceu até 1982. Durante vários anos passou por outras bandas militares e em 1998 foi convidado a assumir a direção artística da Banda Recreativa União Pinheirense, onde permaneceu durante quatro anos. Em 2002, frequentou o curso de direção de banda orientado pelos professores Robert Houlihan, Adelino Mota e Carlos Marques.


VI — A Filarmónica Gafanhense na atualidade

No âmbito de uma parceria estabelecida com a Câmara Municipal de Ílhavo e do reconhecimento da capacidade de a coletividade assumir e gerir compromissos de relevância cultural, a autarquia ilhavense concedeu, em Março de 2005, em sessão solene, à FILARMÓNICA GAFANHENSE, a Medalha de Ouro do Concelho, sendo a mais alta condecoração Municipal entregue a esta instituição.
Os dirigentes, executantes e sócios, tal como os autarcas do Concelho de Ílhavo, anseiam por uma sede social condigna para que esta coletividade, a mais antiga da região, possa, num futuro próximo, satisfazer os seus objetivos ligados à cultura musical. Sempre no sentido de cada vez mais procurar novos e grandes valores para a música, e de continuar a animar culturalmente a terra que a acolheu e o concelho a que pertence, e não só, durante muitos anos.
No dia 14 de Março de 2006 foram eleitos os novos membros dos órgãos sociais, para o biénio 2006-2007, numa perspetiva de prosseguir o trabalho até ao presente desenvolvido, apostando, no entanto, em acompanhar a dinâmica dos tempos que correm, para bem da cultura musical.
Os cargos ficaram assim distribuídos:

 Assembleia Geral
Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola
1.º Secretário, João Paulo da Silva Nunes
2.º Secretário, António Fernandes Teixeira

Conselho Fiscal
Presidente, Manuel Santos Ribeiro
Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos
Vogal, Marco José Pereira Santos

Direção
Presidente, Carlos Sarabando Bola
Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola
Secretário, Ana Paula Jesus Bola
Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo
Vogal, António Manuel Bernardino Santos

Suplentes

João Fernandes Teixeira, Paulo Sérgio Oliveira Soares, Pedro Manuel Gonçalves Ferreira, Rosa Maria Nunes Paiva, Hélio Ribau das Neves

É justo salientar, ainda, que em Outubro de 2006 a Filarmónica Gafanhense foi inscrita no INATEL, ficando com o n.º 4966. E em 2007, além do seu maestro Fernando Manuel Tavares Lages, a Filarmónica é constituída por 40 executantes, com idades compreendidas entre os nove e os 73 anos, distribuídos pelos mais diversos instrumentos. A formação de novos músicos está entregue aos professores Ricardo Paulo Ferreira Constantino, João Fernandes Teixeira, Paulo Renato Jesus Bola e Alcino Marçalo Santos Patoilo.

Fernando Martins

NOTA: Estou a diligenciar para atualizar este escrito.

domingo, 9 de dezembro de 2012

D. Manuel de Almeida Trindade evocado na Sé de Aveiro por Mons. João Gaspar


D. Manuel de Almeida Trindade foi um Bispo querido do povo de Aveiro. Outros também o foram e são, é certo, mas a sua memória, de homem bom e delicado, capaz de se relacionar com todos, está bem presente nos diocesanos mais velhos.
Mons. João Gonçalves evocou-o ontem na Sé, na missa celebrativa da entrada de D. António Francisco na Diocese de Aveiro, como Bispo Residencial. 
O texto que  Mons. João Gaspar escreveu e leu aqui o deixo para memória futura aos meus leitores e amigos. Sublinha  Mons. que com ele privou de perto, as últimas vontades de D. Manuel: 
«Como uma das últimas disposições, D. Manuel pediu que o seu cadáver fosse trasladado de Coimbra para Aveiro. Tendo falecido em 05 de agosto de 2008, efetivamente o cadáver, após dois dias, foi trazido para Aveiro, sendo depositado no jazigo da diocese, no cemitério central. 
Na sua entrada em Aveiro, D. Manuel já havia dito publicamente que vinha para ficar; quando pediu a resignação, numa conversa que manteve comigo, afirmou-me que finalmente resolvera ir para Coimbra, mas queria regressar depois da morte, para permanecer entre os aveirenses e ser acarinhado por eles.» 


D. MANUEL DE ALMEIDA TRINDADE 

Por Mons. João Gonçalves Gaspar, 
Nas ‘bodas de ouro’ episcopais 
Catedral de Aveiro, 08-12-2012 


Na tarde de 16 de setembro de 1962, os meios de comunicação radiofónica publicaram a notícia há muito esperada: o papa João XXIII nomeara para ocupar a cadeira da catedral de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade, «sacerdote de verdadeira e sólida piedade e de invulgar talento e experiência». O novo bispo de Aveiro iniciou oficialmente o múnus pastoral perante o corpo de consultores em 08 de dezembro de 1962; perfazem-se hoje precisamente cinquenta anos. Porque estava ausente em Roma nos trabalhos do segundo concílio ecuménico do Vaticano, em 15 de novembro anterior havia mandatado como seu procurador para o efeito mons. Júlio Tavares Rebimbas. Recebeu a ordem episcopal em 16 seguinte na sé de Coimbra e entrou na diocese na tarde do dia 23. 
Na igreja catedral, antes do canto do ‘te-deum’, D. Manuel proferiu a sua primeira Saudação Pastoral, na qual logo demonstrou um rico testemunho de serenidade, prudência e sabedoria, manifestando o espírito de alguém que não se deixava iludir por triunfalismos fugazes. Dela se extrai o seguinte: - «A cruz que me pende dos ombros é de oiro, mas não deixará de ser cruz. Mesmo que a amizade e a lealdade dos seus mais próximos colaboradores lhe não faltem, mesmo que a compreensão daqueles que são os detentores do poder o ajude na sua missão, ainda que a estima e a disciplina do povo cristão facilitem a sua atividade pastoral, sempre os cuidados e os trabalhos de um bispo hão de constituir uma cruz. Oxalá eu saiba doirar o ferro dos pesos quotidianos com o oiro fino do autêntico amor de Deus e dos homens! Esse será verdadeiramente o oiro da minha cruz peitoral». 

Acumulando com o ministério de bispo de Aveiro, D. Manuel também foi, durante cerca de dezassete anos, presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, manifestando sempre um espírito invulgar de sabedoria, de prudência, de ponderação, de coragem, de decisão e de pacificação. 
Como sabemos, no dia 25 de abril de 1974, deu-se a ‘revolução dos cravos’. Contudo, a exaltação inicial, na alegria das liberdades alcançadas, foi esmorecendo entre o povo, porque no horizonte nacional começara a levantar-se a ameaça de nuvens negras a pressagiar um período cruel de desrespeito pelas liberdades conseguidas. Neste contexto, os ânimos andavam preocupados. Por isso, o povo e as pessoas mais responsáveis, incluindo os bispos, sentiam que não podiam ficar de braços cruzados, tolhidos pelo medo; propalava-se mesmo a hipótese de se expressar a sua angústia e a sua revolta em manifestações apartidárias, numa discordância com tamanhas injustiças. 

De facto, em ambiente tão apreensivo, no ‘verão quente’ de 1975, D. Manuel concordou com a hipótese, que lhe foi proposta, de se realizar uma manifestação popular e apolítica de cristãos pela defesa da verdadeira democracia e pela legítima salvaguarda dos direitos humanos; cuidadosamente organizada, tal manifestação aconteceu na tarde do dia 13 de julho, na qual tomaram parte cerca de cinquenta mil pessoas. Na concentração final junto da sé, no termo de três breves intervenções, D. Manuel, que se integrara no cortejo, proferiu algumas palavras com voz corajosa e convicta: - «Existem cristãos em todas as dioceses de Portugal. Oxalá que o exemplo de Aveiro os desperte, do Minho ao Algarve... e se apresentem em massa a apoiar os seus bispos. Que os cristãos, se porventura estão adormecidos, acordem finalmente. Acordem! Acordem!» O que aconteceu em Aveiro teve uma repercussão nacional e entusiasmou a idênticas manifestações que se realizariam nos domingos seguintes em Viseu, Bragança, Coimbra, Lamego, Braga, Leiria e Vila Real. E a história saberá contar o resultado de tudo isto… 

Quando chegou à diocese de Aveiro, D. Manuel deixou logo transparecer a sua maneira de ser e de estar. As semanas do inverno eram passadas nas paróquias em visitas pastorais, num esquema de missões regionais; já implementadas pelo seu antecessor D. Domingos da Apresentação Fernandes em 1959, elas significaram um facto inédito na altura. Além das celebrações litúrgicas, o prelado visitava os doentes e os pobres; entrava nas choupanas, nas escolas e nas fábricas; reunia com as associações religiosas e cívicas; ia aonde as pessoas se encontravam, trabalhavam e viviam. Recordo não apenas a elevação com que falava a professores universitários ou a pessoas de ciência, como ainda a simplicidade com que se dirigia a crianças e a homens do campo. Naquele trabalho missionário, teve a colaboração de sacerdotes, mas também quis ter a dos leigos, para falarem em serões e encontros – casais a casais, jovens a jovens, catequistas a catequistas, empresários a empresários, operários a operários. Com conhecimento próprio, relembro-o efetivamente como um homem e um bispo que nunca quis ser distante das pessoas, mas sempre próximo, atento e carinhoso. 

D. Manuel requereu a resignação de bispo de Aveiro ainda antes dos setenta anos de idade, porque se sentia cansado, não tanto com o trabalho pastoral na diocese, mas sobretudo por causa da responsabilidade que tivera na presidência da Conferência Episcopal Portuguesa, nomeadamente no tempo após o 25-de-abril. Todavia, sofreu muito com a saída de Aveiro; afastou-se com tristeza, saudade e lágrimas. Pondo de parte as primeiras ideias que lhe surgiram de habitar na casa diocesana de Nossa Senhora do Socorro, em Albergaria-a-Velha, ou numa residência paroquial com um dos nossos párocos, resolveu por fim afastar-se, recolhendo-se no seminário de Coimbra; contudo, manter-se-ia sentimentalmente ligado a Aveiro. Quando voltava casualmente a esta cidade, era uma alegria mútua, quando se encontrava; andava a pé pelas ruas e avenidas, visitava famílias amigas e parava a conversar com as pessoas. 

Como uma das últimas disposições, D. Manuel pediu que o seu cadáver fosse trasladado de Coimbra para Aveiro. Tendo falecido em 05 de agosto de 2008, efetivamente o cadáver, após dois dias, foi trazido para Aveiro, sendo depositado no jazigo da diocese, no cemitério central. Na sua entrada em Aveiro, D. Manuel já havia dito publicamente que vinha para ficar; quando pediu a resignação, numa conversa que manteve comigo, afirmou-me que finalmente resolvera ir para Coimbra, mas queria regressar depois da morte, para permanecer entre os aveirenses e ser acarinhado por eles. 

Uma das suas derradeiras fotografias rememora-o como bispo a ler, a pensar e a refletir sobre a Bíblia, que segura nas mãos. É precisamente assim que o evoco com um misto de ternura e de gratidão… como um homem de inteligência, de bondade, de leitura, de oração e de fé; como um bispo que contemplava e meditava a palavra de Deus para a transmitir pela vida, pela voz e pelo testemunho. D. Manuel de Almeida Trindade foi um brilhante facho de luz, que teima em iluminar as nossas gentes, da ria à Bairrada, do litoral marítimo às faldas do Arestal e do Caramulo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Alameda Prior Sardo




A Alameda Prior Sardo é uma justa homenagem ao primeiro gafanhão que concluiu um curso superior e que desempenhou, nesta sua e nossa terra, um papel relevante a nível religioso, social, cultural, administrativo e até político. Uma alameda é, por definição, em resumo, uma rua ladeada de árvores. Mas, apesar de as árvores não serem assim tão expressivas, lá há de vir o tempo em que a Alameda Prior Sardo se apresente bem arborizada. 
Quem vai pela Av. José Estêvão, pode entrar na Alameda junto à Pastelaria Gafapão. No seu trajeto, que se estende até à rua Gago Coutinho, o viajante encontra o monumento dedicado ao Mestre Manuel Maria Bolais Mónica e a Escola EB 2,3. 
Não há dúvida de que o Prior Sardo foi figura preponderante na construção da Gafanha da Nazaré, pela sua intervenção multifacetada. Do seu empenho, nasceram a freguesia e a paróquia, em 1910, de que foi seu primeiro pároco. Antes, fora capelão, desde 1902.
Lê-se na Monografia da Paróquia, “Gafanha – N.ª S.ª da Nazaré”, que o Prior Sardo “não era alto, mas era forte”. Dotado de “uma força física extraordinária”, era “muito ativo” e tinha muita “paciência”. Também se dizia que era muito “genicoso”, a par de grande pregador. “Num sermão, chorava mais do que uma criança”, acrescentava-se. Além disso, tinha uma empresa de bacalhau, de que era gerente, e foi político, exercendo o cargo de vice-presidente da Câmara de Ílhavo. Chegou, inclusive, a ser presidente interino, durante dois períodos, como adiante se especifica. E quem hoje circula pela estrada velha que ligava a capela da Chave [primeira matriz] à ponte de Ílhavo, na Gafanha de Aquém, atravessando a que é, presentemente, a Av. José Estêvão, talvez nem saiba que esse melhoramento se deve ao Prior Sardo, obra que reclamou muito antes de exercer o cargo de vice-presidente da autarquia. Foi durante o desempenho do cargo de Presidente da Câmara de Ílhavo, lugar que ocupou, interinamente, durante dois períodos (entre 27 de Março de 1909 e 2 de Janeiro de 1910; e entre 4 de Julho de 1910 e 4 de Setembro), que se procedeu ao pagamento das despesas da referida estrada. Depois, dinamizou o processo da construção da igreja Matriz, que foi inaugurada em 1912, tendo falecido em 20 de Dezembro de 1925, com apenas 52 anos de idade. 
Entretanto, o Padre Vieira Rezende, referido noutros contextos, sublinha, na sua “Monografia da Gafanha”, o zelo com que o Prior Sardo desempenhou o seu múnus sacerdotal, transcrevendo uma lapidar informação do nosso primeiro prior: “O asseio que hoje já se nota nas habitações da Gafanha tem alguma coisa de instrutivo. É o resultado das persistentes insinuações da limpeza que eu sempre prego, quer nas homilias, quer no confessionário, e que é em parte complementar do asseio que desejo e quero nas almas.” 

Fernando Martins

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Diaconado Permanente na Diocese de Aveiro




A história do Diaconado Permanente na Diocese de Aveiro e nas demais dioceses do país deve um dia ser feita, para memória futura, porque, se nada for organizado, perde-se uma caminhada bonita e muito útil à Igreja Católica, que o mesmo é dizer ao Povo de Deus. Neste meu simples e humilde escrito alinho alguns subsídios para essa história, na esperança de que outros, mais abalizados do que eu, se disponham a avançar, de forma pessoal ou em grupo. Por mim, estarei apenas disponível, na medida das minhas modestas capacidades.




1 – Introdução 

No dia 22 de Maio de 1988, os primeiros diáconos permanentes de Aveiro foram ordenados na Sé, por D. António Marcelino, estando presente D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo Emérito. Duas décadas depois, esse acontecimento foi recordado, por iniciativa dos diáconos permanentes, em três momentos, que proporcionaram outras tantas reflexões. Em Recardães, a 11 de Maio, Dia de Pentecostes, com uma vigília de oração, seguida de jantar de confraternização. Associaram-se as esposas e outros diáconos permanentes, também com suas esposas, bem como alguns amigos.
D. António Francisco dos Santos e o Padre Georgino Rocha, Delegado Episcopal para o Diaconado Permanente, participaram, tendo, com a sua presença, contribuído para valorizar o encontro e estimular quantos, há 20 anos, se dispuseram a servir.
As celebrações continuaram em 22 do mesmo mês, Dia do Corpo de Deus, com a participação na eucaristia e na procissão, cerimónias presididas pelo Bispo de Aveiro, tendo culminado no dia seguinte, no Caramulo, por gentileza do diácono permanente Joaquim Simões. Aí, na eucaristia de acção de graças, foram recordados os diáconos permanentes falecidos, Carlos Merendeiro, do primeiro grupo, e Arnaldo Almeida, do segundo. Ainda foram evocadas as esposas do Carlos, Maria Helena, e do Afonso Henriques, Maria Cândida, também falecidas.
Celebrar uma efeméride é motivo de regozijo dos que a protagonizaram, de reflexão sobre a caminhada que lhe deu origem e sobre as perspectivas de futuro. Daí este texto, que mais não é do que um ponto de partida para a descoberta, neste caso, da importância do diaconado permanente na Igreja Católica, agora mais do que nunca,  tendo em conta a urgência da nova evangelização, face a uma sociedade cada vez mais secularizada e mais indisponível, na opinião de muitas, para assumir, na vida, os valores da Boa Nova de Jesus Cristo.

2 – Fundamentos do Diaconado 

O Diaconado nasceu com a Igreja. Logo nos primeiros tempos, o número de discípulos ia aumentando. Então surgiram queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Daí surgiu a necessidade de escolherem “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, para desempenharem o serviço dos mais pobres. Os apóstolos poderiam, assim, dedicar-se mais à Palavra de Deus, como convinha. É certo que os diáconos da primeira hora foram discípulos, na verdadeira acepção da palavra, embora destacados, a nível ministerial, para o serviço dos pobres de então, fundamentalmente para o apoio às viúvas, mulheres que, nessa situação, estariam sem recursos para sobreviver com dignidade.
Por razões diversas, o diaconado permanente, enquanto ministério ordenado, caiu em desuso, tendo sido restaurado no Concílio Vaticano II. Aliás, o concílio de Trento já havia avançado com a proposta da ordenação de diáconos permanentes, embora tal projecto nunca tenha sido concretizado na Igreja Latina. O diaconado, porém, manteve-se em vigor, apenas para os candidatos ao presbiterado.


3 – Restauração do Diaconado Permanente 

O Vaticano II diz que os diáconos, “aos quais foram impostas as mãos «não em ordem ao sacerdócio mas ao ministério», estão em grau inferior da hierarquia, para, “fortalecidos com a graça sacramental”, servirem o Povo de Deus, “em união com o Bispo e o seu presbitério, no ministério da liturgia, da palavra e da caridade.” Atribuindo às diversas Conferências Episcopais a competência de decidir, “com a aprovação do Sumo Pontífice, se e onde é oportuno instituir tais diáconos para a cura das almas”, o Vaticano II lembra que, “Com o consentimento do Romano Pontífice, poderá este diaconado [permanente] ser conferido a homens de idade madura, mesmo casados, e a jovens idóneos; em relação a estes últimos, porém, permanece em vigor a lei do celibato”.
Estas como todas as decisões do Concílio Vaticano II foram sancionadas por Carta Apostólica de Paulo VI, em 8 de Dezembro de 1965, onde se proclama que “tudo quanto foi estabelecido conciliarmente seja observado santa e religiosamente por todos os fiéis, para glória de Deus, honra da santa mãe Igreja, tranquilidade e paz de todos os homens”.
A ideia de introduzir o Diaconado Permanente em Portugal surgiu em 1969, de forma mais concreta, quando a Assembleia Plenária do episcopado emitiu um comunicado, em Novembro, no qual refere: “Respondendo à solicitude da Santa Sé, a Assembleia reflectiu sobre a oportunidade de introduzir entre nós o Diaconado Permanente, e para fomentar ulterior deliberação em matéria com tantas implicações e sobre a qual se não conta com a lição da experiência, resolveu confiar o estudo prévio do assunto à Comissão Episcopal do Clero e Religiosos”. Em 1977, também em Assembleia Plenária do episcopado, foi então aprovado um documento sobre os motivos que justificam a instauração do Diaconado Permanente nas dioceses portuguesas que o julgarem oportuno, como se lê no livro “Diaconado Permanente – Actas e Documentos”, da Comissão Episcopal do Clero, Seminários e Vocações. Estava aberto o caminho para que as dioceses solicitassem à Santa Sé autorização para avançar com o ministério do Diaconado Permanente.

4– Diocese de Aveiro segue Vaticano II 

Vinte anos depois do Vaticano II, concretamente, em 1985, inicia-se a formação dos primeiros diáconos permanente na Diocese de Aveiro. Após uma sessão de informação a que presidiu D. Manuel de Almeida Trindade em conjunto com D. António Marcelino, Bispo Coadjutor, e em que estiveram presentes, além do Padre Georgino Rocha, os párocos com os homens que haviam convidado, os candidatos iniciaram os primeiros encontros, seguindo o programa de formação aprovado pela conferência Episcopal Portuguesa. Da lista inicial, constam: José Joaquim Pedroso Simões, da Gafanha da Nazaré; Daniel Rodrigues, da Glória; João Afonso Casal, da Glória; Manuel Fernando da Rocha Martins, da Gafanha da Nazaré; Luís Gonçalves Nunes Pelicano, da Palhaça; Fernando Reis Duarte Almeida de Óis da Ribeira; Afonso Henriques Campos Oliveira, de Recardães; Augusto Manuel Gomes Semedo, de Águeda; e Carlos Merendeiro da Rocha, da Gafanha da Nazaré. Participaram ainda na formação Domingos Carvalho Moreira, da Vera Cruz; Carlos Valentim de Sousa e Silva, da Vera Cruz; José Fernandes Arede, de Águeda; e Manuel de Oliveira Marques Ferreira, de Beduído. Estes candidatos não foram ordenados, por razões pessoais. O Carlos Merendeiro faleceu em 17 de Fevereiro de 2003, depois de uma vida cheia, como leigo e como diácono permanente, de amor à Igreja e de dedicação à causa da Boa Nova de Jesus Cristo.
A formação decorreu em Aveiro, semanalmente, durante três anos e cinco meses, incidindo os temas de estudo e reflexão sobre Concílio Vaticano II – História e constituições e Teologia do Diaconado; Pastoral da Palavra e Pastoral Litúrgica; Pastoral sociocaritativa e Sentido pastoral das leis e da disciplina canónica. A seguir à ordenação, os estudos abordaram temas de eclesiologia, teologia do presbitério e teologia do laicado; Moral familiar e Doutrina Social da Igreja; Dinâmica de grupos, Catequética e trabalhos de cartório; Teologia da oração, da vocação e da Liturgia das Horas; Ministério do leitorado, do acolitado e do diaconado.
Como prelectores, registamos, entre outros, que deram contributos esporádicos, os seguintes: D. Manuel de Almeida Trindade, D. António Baltasar Marcelino, Padres Georgino Rocha, Querubim Pereira da Silva, Urbino Pinho, Manuel António Carvalhais, José Henriques da Silva, Júlio Franclim Pacheco e Monsenhores Aníbal Ramos e João Gaspar. A formação apoiou-se em retiros, recolecções, encontros de oração e acções de intervenção pastoral e social, com apresentação de relatórios dos trabalhos desenvolvidos e das conclusões conseguidas. Em algumas acções de formação e oração participaram as esposas. Importa sublinhar que, antes da ordenação, D. António Marcelino visitou as famílias dos candidatos, com o objectivo de as esclarecer sobre o passo que o marido e pai estaria disposto a dar, colocando-se ao serviço da Igreja, de forma ministerial. De todas as famílias recebeu a anuência à decisão a tomar pelos candidatos.

5 – Ordenação dos primeiros diáconos permanentes 

A ordenação dos primeiros diáconos permanente aconteceu na Sé de Aveiro, a 22 de Maio de 1988, Dia de Pentecostes. Templo cheio, com o presbitério diocesano e familiares e amigos dos candidatos. Presidiu, obviamente, D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, estando presente D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo Emérito desde 20 de Janeiro de 1988. À homilia, D. António Marcelino lembrou aos candidatos, em especial, e à comunidade diocesana, em geral, que “o diaconado permanente é na Igreja o serviço da caridade, institucionalizado oficialmente. Da caridade no seu sentido mais largo, exprimindo a alma de todo o serviço que a Igreja deve ao mundo e aos homens concretos”. E sublinha: “Embora podendo realizar todas as acções eclesiais – proféticas, litúrgicas e caritativas – compatíveis teológica e canonicamente com o grau sacramental recebido, o diácono é chamado a ser hoje, como servidor, um agente activo de mudança e de evolução pastoral, na procura de formas novas de a Igreja responder a novos problemas e a novas situações. Ele não é ordenado para ser um simples executante de tarefas. A sua maneira de viver, no dia-a-dia, e a missão concreta que lhe foi confiada têm repercussões directas sobre a orientação que a mesma missão diaconal irá tomando no futuro, tanto para si como para a Igreja diocesana.”
Tendo em consideração que os diáconos permanentes, como reza o Ritual da Ordenação, “Devem em tudo comportar-se de modo tal que sempre neles se reconheçam verdadeiros discípulos de Cristo, que veio para servir e não para ser servido”, D. António Marcelino frisou que os diáconos permanentes “não vão ser minipadres nem leigos promovidos”, pois “este ministério ordenado tem a sua especificidade própria, a qual tem muito que ver com o fermento novo que o Espírito de Deus vai colocando de muitos modos no seio da Igreja, para a tornar mais evangélica”.

6 – Duas décadas do diaconado permanente na Diocese de Aveiro 

Durante estas duas décadas, os primeiros diáconos permanentes da Diocese de Aveiro exerceram a sua acção pastoral nos mais diversos domínios, de âmbito paroquial e arciprestal, mas também em serviços diocesanos. Em Julho, o Bispo de Aveiro, conforme notícia inserta no Correio do Vouga, torna público as seguintes nomeações, para além dos trabalhos pastorais a desenvolver nas suas paróquias: Afonso Henriques Campos de Oliveira, Pastoral Sociocaritativa no arciprestado de Águeda e apoio à Equipa sacerdotal de Águeda; Daniel Rodrigues pastoral dos marginais, integrada no sector da Pastoral Sociocaritativa; Fernando Reis Duarte de Almeida, membro do Secretariado das Migrações e Turismo e apoio a paróquias mais carenciadas pastoralmente; João Afonso Casal, equipa diocesana da Cáritas; José Joaquim Pedroso Simões, equipa diocesana da Cáritas; Carlos Merendeiro da Rocha, sector pastoral família-catequese (Gafanhas) e responsável pela formação espiritual e catequética do CNE (Gafanha da Nazaré); Luís Gonçalves Nunes Pelicano, pastoral familiar no arciprestado de Oliveira do Bairro e lançamento de trabalho pastoral em associações e instituições sociais de voluntariado; e Manuel Fernando da Rocha Martins, Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais e pastoral social na zona das Gafanhas; Augusto Manuel Gomes Semedo, equipa pastoral de Águeda e Sociedade de S. Vicente de Paulo.
Depois, e conforme as necessidades pastorais e as disponibilidades e carismas dos diáconos permanentes, o Bispo de Aveiro procedeu a diversas nomeações, havendo de parte de todos o sentido de serviço e a co-responsabilidade eclesial. Paralelamente às tarefas que lhes foram distribuídas, os diáconos integraram-se na formação permanente proposta pela Diocese, ao mesmo tempo que puderam contar com apoio espiritual e com acompanhamento pastoral, próprio de cada sector onde exerciam o seu ministério.

Fernando Martins

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Farol da Barra de Aveiro





Não deixa de ser oportuno e justo lembrar que em 2012 se recordaram os 156 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao director das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol. 
Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista “Arquivo do Distrito de Aveiro”, em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves: 


Farol nas proximidades da barra 




«Há por bem sua majestade el-rei [D. Pedro V] ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, — devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância. 
Sua majestade manda, por esta ocasião, prevenir o sobredito funcionário de que encomendará em França, para ser estabelecido no mencionado local, um farol lenticular de segunda ordem, do sistema de mr. Fresnel, e semelhante ao que se destina para o Cabo Mondego, cujo desenho se lhe envia, com a diferença, porém, de ser girante para o distinguir dos faróis que ficam ao norte e ao sul daquele porto.» 
A Barra de Aveiro tinha sido aberta em 1808 e eram conhecidos os riscos que ela oferecia à entrada das embarcações, «com prejuízos que podem resultar à humanidade e ao comércio», como se sublinha na referida portaria. 
No mesmo artigo de Francisco Ferreira Neves, diz-se que a comissão nomeada para a determinação do local em que deveria ser construído o farol deu o seu trabalho por concluído em 11 de Julho de 1858. Entretanto, os naufrágios sucediam-se entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro, «por falta de sinalização luminosa nesta parte da costa marítima». 
Os trabalhos não foram tão céleres quanto seria de desejar, o que levou o ilustre parlamentar José Estêvão a pedir ao Governo, em 4 de Julho de 1862, na Câmara dos Deputados, a construção de um farol na nossa costa. No ano seguinte, em 15 de Setembro, a Câmara Municipal de Aveiro apresentou a el-rei D. Luís uma exposição, requerendo a edificação de um farol ao sul da barra. 
Para justificar a sua petição, a autarquia aveirense recorda que importa evitar «os naufrágios que tão frequentes se têm tornado nestes últimos tempos, no extenso litoral entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro». 
E acrescenta: 
«Ninguém pode duvidar, Senhor! que numa costa tão extensa como acidentada, em que as restingas ou cabedelos se formam por a violência das correntes, cuja direcção varia diariamente, um farol evita que os navios, se singram próximo da terra, se enganem no rumo, vencendo as dificuldades da navegação sem correrem o risco de naufragar nos bancos de areia, às vezes em noites bonançosas, como infelizmente tem sucedido entre nós.» 
A resposta do Governo não tardou. No dia 26 de Setembro de 1863, uma portaria governamental ordena que se fizesse o projecto e o orçamento. O projecto foi concluído em 5 de Abril de 1884 e os trabalhos da construção iniciaram-se em Março de 1885. 
A inauguração oficial do farol aconteceu em 31 de Agosto de 1893. O aparelho iluminante foi ligado e posto a funcionar em 15 de Outubro do mesmo ano. 
Na inauguração, presidida pelo ministro das Obras Públicas, Bernardino Machado [futuro Presidente da República], estiveram presentes os membros da Câmara Municipal de Ílhavo e o prior da Freguesia, Dr. Manuel Branco de Lemos, como informa o  Padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha.

Fernando Martins

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Nossa Senhora dos Navegantes



A festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra,  Gafanha da Nazaré, continua a ter apreciadores e devotos. A Senhora dos Navegantes, como tenho sentido entre o povo desta terra e arredores, sobretudo os ligados direta ou indiretamente ao mar e à ria,  fixou residência no coração de muita gente. Não admira, portanto, que muitos  gostem de participar nos festejos, em especial na procissão pela Ria de Aveiro, com passagem por S. Jacinto.  Também a eucaristia, o festival de folclore, a música e o convívio são, sem dúvida, momentos altos das homenagens do povo à protetora dos mareantes e suas famílias. 
Aqui deixo, como subsídio para a história da festa em honra da Senhora dos Navegantes, uns breves apontamentos, não só para avivar memórias, mas ainda para despertar o interesse pelo estudo do tema.


1 – Devoções Marianas 

É conhecida, de há muito, a devoção que as gentes das Gafanhas têm por Nossa Senhora, à semelhança do que acontece um pouco por todo o País. A figura da Mãe, tanto no plano natural como divino, levou os crentes a aceitarem a Virgem Maria como símbolo da ternura, da disponibilidade, da proteção e do amor. Nessa linha, Maria nunca deixou de inspirar devoção a quem olha para Ela, sobretudo em momentos de aflição ou dificuldades. A Mãe de Deus, e nossa Mãe também, está permanentemente aberta ao povo sofredor. Nossa Senhora da Nazaré, da Encarnação, do Carmo, dos Aflitos, da Boa Hora, da Boa Viagem, da Saúde, dos Campos e, ainda, dos Navegantes. A mesma Nossa Senhora para cada situação.
Não é de estranhar, pois, que a Senhora dos Navegantes tenha surgido em espaço e tempo de frágeis técnicas de marear, com perigos constantes, tanto à boca da barra como no mar alto. Embora não se saiba de onde partiu a ideia de venerar no Forte da Barra a Senhora dos Navegantes, é de presumir que a proposta, com toda a naturalidade, tenha nascido no coração de quem vive sentindo as riquezas do oceano, mas também a sua bravura.

2 – Capela de Nossa Senhora dos Navegantes 

A capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes é, sem dúvida, o mais antigo templo católico das paróquias da península da Gafanha. Sobre ela, diz o Padre João Vieira Rezende, na sua Monografia da Gafanha: «No Forte, freguesia da Gafanha da Nazaré, começou a ser construída em 3 de Dezembro de 1863 a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, sob a direção do exímio engenheiro Silvério Pereira da Silva, a expensas dos Pilotos da Barra, sendo então piloto-mor um tal senhor Sousa. Custou 400$000 réis. Na parede está fixada uma lápide que diz: “Património do Estado”.
Há de interessante e invulgar nesta capela as suas paredes ameadas e a ombreira da porta principal, de pedra de Ançã, lavrada em espiral com arco em ogiva. Celebra-se a sua festa na última segunda-feira de Setembro com enorme concorrência de forasteiros das Gafanhas, de Ílhavo, Aveiro e Bairrada. Nesse dia Aveiro é um deserto por se terem deslocado para ali muitos dos seus habitantes.
A procissão ao sair do templo segue por sobre o molhe da Barra e regressa pela estrada sul que vem do farol. A festa é promovida pela Junta Autónoma da Barra.» Tanto quanto se sabe, o templo mantém com rigor a traça original, apesar das obras de restauro e conservação por que tem passado. Pequenina, a capela ali está inserida, e bem, no complexo portuário que entretanto foi nascendo e se desenvolveu, dando, presentemente, sinais de que vai crescer ainda mais.
A Senhora dos Navegantes, que os nossos pescadores e mareantes tanto veneraram nos tempos dos nossos avós, não deixará, contudo, com a sua ternura de Mãe, de velar por quantos sulcam as águas do mar, não já na Faina Maior, que o bacalhau que comemos já é mais importado do que pescado pelos portugueses, mas sobretudo nos transportes marítimos e na pesca costeira.
Do texto do Padre Rezende, registamos, como ponto de partida para uma análise mais profunda, o pormenor, significativo, da construção da capela ter sido iniciativa dos Pilotos da Barra e a expensas suas, não se sabendo se houve, ou não, qualquer pedido ou sugestão das populações, entidades eclesiásticas, políticas ou autárquicas.
Seria curioso saber se o piloto-mor, o tal senhor Sousa, era pessoa da nossa região e ligada à Igreja. Por outro lado, seria bom descobrir-se como apareceu aqui a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, como se escolheu a imagem e quem deu a ideia para a expressão do rosto. Teria sido tudo trabalho do piloto-mor?
O facto de as paredes do templo serem ameadas prende-se, compreensivelmente, à existência do Forte Novo ou Castelo da Gafanha, numa certa homenagem à defesa da zona das investidas por via marítima dos inimigos da Pátria. 

3 – A festa da Senhora dos Navegantes 

Tanto quanto nos diz a memória, a Festa da Senhora dos Navegantes, da nossa meninice, tinha a marcá-la, como pormenor mais típico, a procissão até ao mar, para além do que era habitual em festas com um misto de religioso e profano. Acontecia na última segunda-feira de Setembro, pois no domingo anterior havia a festa da Senhora da Saúde, na Costa Nova.
A festa do Forte atraía mais os povos de Aveiro e Gafanha da Nazaré e a da Senhora da Saúde era mais ao gosto das pessoas de Ílhavo e Gafanha da Encarnação. A uma e a outra associavam-se os veraneantes a banhos nas praias da Barra e Costa Nova, respetivamente.
No dia da festa, de manhã, tinha lugar uma procissão da igreja matriz da Gafanha da Nazaré para o Forte, sendo transportada em andor a imagem antiga de Nossa Senhora da Nazaré, com os membros da Irmandade a prestarem-Lhe as devidas honras, com as suas opas brancas, murças azuis e bastão (pau a imitar uma vela de cera).
Anos depois, chegaram a levar o andor com a imagem numa carrinha de caixa aberta, numa clara violação das tradições. A procissão até ao mar começava obviamente na capela e seguia pelo molhe que dá acesso à Meia-Laranja. Presidia o prior da Gafanha da Nazaré, incorporavam-se as irmandades e os “anjinhos”, e o povo acompanhava atrás. Não faltava a música, os foguetes ouviam-se ao longe e o colorido das opas e murças emprestava dignidade ao acto.
Na Meia-Laranja havia a bênção do mar e de quantos dele viviam ou nas praias apanhavam banhos de sol, voltando a procissão agora pela rua que ligava a Barra ao Forte, atravessando pela segunda vez a ponte de madeira, que só os mais velhos podem recordar. Na Meia-Laranja, os veraneantes associavam-se com devoção à bênção do mar e dos fiéis, recordando, talvez, os que foram tragados pelas águas revoltas do mar embravecido.
Os povos ribeirinhos sempre tiveram muito respeito pelo mar, ou não fosse ele o amigo que dá sustento ou o inimigo que destrói vidas indefesas. Por isso, a adesão das pessoas da beira-mar aos festejos em honra de Nossa Senhora dos Navegantes era grande. A festa teve, durante muitos anos, como organizadores, a Administração e os trabalhadores da Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, depois Junta Autónoma do Porto de Aveiro, antecessoras, de certo modo, da atual APA (Administração do Porto de Aveiro).
Alguns trabalhadores, uns domingos antes dos festejos, percorriam as Gafanhas, Aveiro e Ílhavo, de saco ao ombro e de saca na mão, recolhendo donativos para as muitas despesas. 

4 – A procissão pela Ria 



A procissão pela Ria de Aveiro foi uma criação do Padre Miguel Lencastre, pároco da Gafanha da Nazaré entre 1973 e 1982. Antes de pároco foi coadjutor do Padre Domingos Rebelo, cerca de dois anos. Desde que chegou à Gafanha, nunca deixou de se mostrar um enamorado pela Ria, como diversas vezes nos sublinhou. Quando se sentia cansado das tarefas paroquiais ou necessitasse de meditar sobre novos desafios, gostava de refletir olhando a laguna, esperando dela inspiração motivadora. Por isso, logo se relacionou com homens do mar, assumindo as dificuldades e os êxitos de todos como seus.
Numa viagem ao Brasil, em tempo sabático, apreciou, em Porto Alegre, uma procissão marítima, em honra da Senhora dos Navegantes, padroeira da cidade, que acontece em 2 de Fevereiro. Ao contemplar tão belo espetáculo e tanta devoção, os seus pensamentos voaram até ao Forte da Barra com sua Senhora dos Navegantes, lembrou-nos há tempos.
O Padre Miguel Lencastre andava, desde o 25 de Abril de 1974, com a preocupação de dinamizar o Stella Maris. Ocorreu-lhe, então, a ideia de ligar este clube, vocacionado para o apoio aos homens do mar e suas famílias, à Senhora dos Navegantes e à Ria, património natural que muito admirava e que precisava de ser valorizado. Uma grande festa seria projeto interessante.
A procissão, com todo o colorido e alegria, seria ouro sobre azul. E assim foi. A primeira procissão, segundo relata o jornal "Timoneiro", realizou-se no dia 19 de setembro de 1976, fazendo adivinhar que seria um sucesso no futuro.
 Bem relacionado com oficiais da Base de São Jacinto, com o Capitão do Porto de Aveiro e com homens do mar, não lhe foi difícil concretizar o sonho que acalentava. Os barcos não faltaram, um helicóptero deu uma preciosa ajuda, os proprietários das embarcações aderiram, as irmandades aceitaram o desafio, o povo marcou presença com entusiasmo, a comunidade paroquial aplaudiu.
A festa, entretanto, esmoreceu e a procissão caiu no esquecimento. Mais tarde, depois da Expo’98, levado pelas experiências e vivências doutras terras ligadas ao mar, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, de colaboração com a paróquia e com o Stella Maris, retomou a tradição criada pelo Padre Miguel Lencastre, precisamente naquele ano. 

5 – Tradição a manter-se 

Sou dos que pensam e defendem que as boas tradições devem ser mantidas e cultivadas, no sentido de que, tudo quanto faz parte da nossa identidade, precisa de estar na base do futuro. Futuro sem raízes na história pode estar condenado a ser absorvido por hábitos que nada nos dizem. Daí a importância de continuarmos a apostar nas festas religiosas, de tradição popular, embora imbuídas de projetos mais ambiciosos, isto é, que possam enriquecer as pessoas, levando-as a viver a fraternidade e o espírito do bem e do belo mais aberto aos outros.
Antigamente, a Festa da Senhora dos Navegantes unia as pessoas da região, de tal forma que Aveiro e Gafanhas suspendiam os trabalhos para se juntarem em torno da sua capelinha. Participavam na missa, incorporavam-se na procissão, pagavam as suas promessas, conviviam umas com as outras, saboreavam as merendas no Jardim Oudinot, ouviam música, cantavam e dançavam. E ainda consta que, na festa, muitos jovens se conheceram, muitos namoricos se iniciaram e alguns casamentos se combinaram. Tudo à sombra de Nossa Senhora dos Navegantes. 

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, setembro de 2008 

Fernando Martins

Meninas na Praia da Barra

Foto de meninas na Praia da Barra em 1958. Não imagino a estação do ano. Talvez nos  princípios  do Verão. Estariam  de passagem? Sei que er...