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sexta-feira, 29 de julho de 2016

À CONVERSA COM JOSÉ VARETA

Os estaleiros deram outra vida 
e outra alma à Gafanha da Nazaré


José Vareta
José Vareta com um foquim
Alguns trabalhos
Conversar com um idoso é ler um livro carregado de vivências, histórias, pessoas, experiências e testemunhos de tempos idos. Daí o nosso gosto por encontros marcados ou fortuitos com pessoas menos jovens que ocupam os dias com atividades sadias, longe do bulício abafado que a sociedade por vezes nos oferece.

Um dia destes fomos ao encontro de José Vareta, 85 anos, carpinteiro naval, um dos raros sobreviventes da geração da construção de navios de madeira. Trabalhou desde os 15 anos nos estaleiros do Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, porventura o mais conhecido construtor naval de lugres e outros barcos de madeira do nosso país. 
Dos estaleiros Mónica saíram navios que marcaram gerações pela harmonia das suas linhas e enquadramento das suas velas. Mas para José Vareta, o navio que mais o encantou foi, sem sombra de dúvidas, o “Celeste Maria”, «um barco muito lindo, muito lindo, muito bem lançado», curiosamente saído da arte de mestre Benjamim Mónica, irmão do mestre Manuel Maria. Aliás, o próprio Mestre Manuel Maria considerava o seu irmão Benjamim muito mais artista do que ele.
José Vareta fala do Mestre Mónica e do estaleiro, que o herdou de seu pai, também construtor naval, sublinhando que este estaleiro «deu outra vida e outra alma à Gafanha da Nazaré», empregando muita gente, o que contribuiu para o desenvolvimento da nossa terra a vários níveis.
Naquele tempo, «a Gafanha sem estaleiros não era nada», disse. Evocou outros estaleiros de outros tantos mestres que entretanto se foram estabelecendo à volta uns dos outros.
Recorda artistas do seu tempo, reconhecendo que, presentemente, tudo está mais simplificado com novas ferramentas, que poupam muita mão de obra. E fala dos serradores oriundos da Tocha, onde se usava bastante a «serra braçal, com um serrador em cima do tronco e outro em baixo», trabalhando sincronizados e sem saírem dos traços previamente definidos.
O nosso entrevistado foi debitando memórias, fazendo um retrato da vida de há décadas. Referiu que os pinheiros, escolhidos a dedo pelo mestre, conforme o que deles se pretendia, chegaram a vir da zona da Guarda.
Depois de reformado, aos 65 anos, ainda continuou a trabalhar até aos 70 anos. Fez parte do grupo que construiu o navio que está no Museu Marítimo de Ílhavo, chamado “Faina Maior”, sob a direção do capitão Francisco Marques, que foi diretor do museu ilhavense. Trata-se de um navio com as dimensões normais para a pesca à linha, nos botes. «O barco teve de ser feito no sítio próprio porque não cabia pelas portas do museu», sublinhou José Vareta. 
Finalmente fixa-se em casa e para passar o tempo dedica-se à construção de miniaturas de barcos e outros apetrechos de madeira. Recusa liminarmente sentar-se num qualquer banco sem nada fazer, referindo que, quando está a trabalhar, vai recordando a sua vida profissional que lhe deu muitas alegrias. Diz que não podemos parar e que «devemos ocupar o tempo livre de forma saudável, fazendo coisas úteis que nos façam reviver». E evocou com saudade o capitão Francisco Marques, «um homem com muitos conhecimentos, muito saber e muito simples».

Fernando Martins

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