quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Carros de bois puxados por homens

Construção da igreja matriz 
da Gafanha da Nazaré

«A capela que servia toda a Gafanha e que se situava no lugar da Chave era muito pequena pois tinha somente uns 20 metros de comprimento por oito de largura. Muito antes das missas já ela se encontrava repleta e o senhor prior, algumas vezes, tinha dificuldades em passar para abrir a porta.
O povo da Marinha Velha era o mais sacrificado pois, no inverno, tinha de passar maus caminhos. Mas posso dizer-lhe que o temporal não impedia que todos comparecessem. O povo de há 50 anos [com referência ao ano da entrevista] cumpria escrupulosamente os seus deveres religiosos e ainda me lembro de ver homens a caminho da igreja, descalços, de calças arregaçadas e de gabão pelos ombros.
Foi na Marinha Velha que nasceu a ideia da nova igreja e lá se formou a comissão que ficou assim constituída: António Ribau, Manuel Joaquim Ribau, Manuel José Ribau, João Maria Casqueira, João Pata Novo e António Pata. O terreno foi oferecido pelos senhores António Ribau e João Maria Casqueira.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Prior Sardo, fundador e “rei”

Padre João Ferreira Sardo

“Em artigo publicado em "O Ilhavense", no dia 1 de Dezembro de 1958, o Padre Resende afirma que o Prior Sardo «dava ordens e directrizes em que era obedecido sem restrições ou quaisquer objecções, criando por esta forma ambiente favorável à criação da freguesia, que ele desde há muito trazia em mente». Noutro passo do seu artigo, garante que o Prior Sardo era considerado «o rei daquelas terras», sendo o primeiro a entender, «diante de Deus e dos homens, que devia interferir oportunamente com a sua autorizada acção e eficaz campanha na independência desejada». Assim, «reconheceu a necessidade de ingressar nos segredos da política dominante e agir dentro dela, como era costume, naqueles tempos, qualquer entidade que solicitasse uma mercê»”.


Fernando Martins 
in “Gafanha da Nazaré, 100 anos de vida”, 
pág, 80-81

Nota: Excerto de um texto publicado no "Correio do Vouga" em 8 de setembro de 2010

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Búzio



«Tão pobrezinha [a primeira capela] que estava desprovida de torre, ou simples campanário, e de sinos.
Sem campanário, sem sinos… Como remediar a falta? Como convocar os fiéis para a santa Missa, para o exercício do culto divino?
Tem o seu quê de regional e de poético a maneira como remediaram a falta e como convocavam os fiéis ao templo. No dealbar do dia, ou à tarde ao mergulhar suave e majestoso do sol nas águas do Oceano, conforme a convocação se fizesse para o Santo Sacrifício ou para as orações da manhã ou da noite, um repolhudo gafanhão, improvisado de sacrista, dirigia-se para o templozinho cheio de misticismo, descalço, de cuecas a cair sobre a rótula, cingidas pelo cós com um só botão às ancas espadaúdas. De barrete pendente sobre as orelhas, contas ao pescoço sobre a baeta da camisola, e de gabão velho, esburacado, deixava fustigar pelo vento da madrugada as canelas magras e nuas.

Pela Positiva

Correio do Vouga, 9 de janeiro de 2008



 http//www.pela-positiva.blogspot.com


Para iniciar esta rubrica na parte dos blogs, não poderia deixar de vos presentear com um dos melhores blogs escrito por Aveirenses. É um projecto muito interessante e deveras tentador, no sentido de que nos obriga a passar por lá todos os dias, dada a sua actualização permanente com conteúdos abrangentes e escritos pela “mão” do autor, não se limitando a copiar textos que encontra pela blogosfera, sendo este um dos requisitos que considero essênciais para a consistência e solidez de um blog. O blog do professor e diácono da nossa diocese Fernando Martins é seguramente disso exemplo. Como ele próprio afirma, o “PELA POSITIVA vai continuar a apostar, numa actualização permanente, à medida das minhas forças. O respeito pela linha definida desde a primeira hora será sempre seguido”. Posso assegurar-vos que efectivamente é verdade, dado que acompanho este projecto já há alguns anos e é claramente uma das minhas paragens habituais, quando navego pela blogosfera.

sábado, 3 de outubro de 2015

Crises geram solidariedade

Texto publicado em 2012

A família está em mudança com a crise, 
a tecnologia, a indefinição na educação. 
Desafios e oportunidades.

Família numerosa

“Com as crises a vários níveis e nos mais diversos setores, a criança acaba por ser o elo mais fraco” na conjuntura atual, garantiu Paulo Costa, vereador da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) e presidente da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens), no II Encontro promovido por aquela organização de âmbito concelhio, que se realizou na sexta-feira, 12 de outubro, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, para debater os “Novos Desafios e Oportunidades para as Famílias em Mudança”.
Paulo Costa adiantou que foram abordados temas pertinentes sobre o “impacto dos novos modelos de família na vida da criança”. Trata-se de uma ação, esclareceu, que “nos prepara para atuarmos com mais consistência e saber nas nossas comissões”. E sublinhou: “Abordámos os novos conceitos de família, o divórcio, a emigração e imigração, tudo o que está a mexer com aquilo que é a estrutura tradicional da nossas famílias.”

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Ria em festa com Senhora dos Navegantes — 2015

Nossa Senhora dos Navegantes

Como manda a tradição, realizou-se na Gafanha da Nazaré, em 20 de setembro, a festa em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes, venerada há muito pelos que labutam nas ondas do mar e nas águas por vezes tumultuosas da laguna aveirense, mas também pelos seus familiares e amigos. Não haverá por estas bandas quem não tenha, direta ou indiretamente, alguém envolvido nas lides marítimas ou da ria. Daí o interesse natural por esta festa que, antigamente, se celebrava na segunda-feira depois da festa da Senhora da Saúde na Costa Nova, que ocorria no domingo.
Com a procissão lagunar, instituída em 1976 pelo saudoso Padre Miguel Lencastre (ver Postal Ilustrado na última página), os festejos saíram enriquecidos, atraindo, por isso, inúmeros devotos, curiosos e demais pessoas que apreciam a Ria engalanada com barcos e barquinhos enfeitados e cheios de gente de todas as idades. Este ano, com céu limpo e temperatura amena, sem grandes ventos e com muita alegria, o prazer da viagem que ligou o porto bacalhoeiro ao Forte da Barra saiu beneficiado. E a passagem por São Jacinto, que associa a Senhora das Areias, com devoção e espírito de fraterna amizade, à Senhora dos Navegantes, representa, indubitavelmente, uma mais-valia a preservar.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os gafanhões vistos por outros

Um gafanhão, cujo nome desconheço

Não podemos ignorar que os primeiros povoadores destas dunas eram pessoas simples, pouco ou nada afeitas a letras e leituras, muito menos a qualquer tipo de cultura académica. O seu saber era de experiência feito, à custa de muita labuta de sol a sol. Viviam do que cultivavam, porque não havia dinheiro para compras fora da terra que iam conquistando, palmo a palmo, adubando as areias estéreis com o suor que lhes caía do rosto queimado pelo sol salgado da maresia.
Frederico de Moura, que foi médico em Vagos, escritor, político e homem da cultura, conhecedor profundo da alma e da determinação da nossa gente, em frases realistas, quais pedras preciosas buriladas, diz assim:

«O gafanhão — ou o avô do gafanhão — quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil.
«Não se foi a ela com a esperança do filho que se achega ao colo maternal e ao seio opíparo que destila o leite da humana ternura. Nada disso! Ao invés, investiu com ela como enteado que não espera da madrasta a carícia rica de promessas, nem a generosidade que dá o pão milagroso…
«Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança e quem irriga duna virgem sabe que mija numa peneira! Quem lança a semente num ventre que é maninho não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata com que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.

(…)

Meninas na Praia da Barra

Foto de meninas na Praia da Barra em 1958. Não imagino a estação do ano. Talvez nos  princípios  do Verão. Estariam  de passagem? Sei que er...