Não deixa de ser oportuno e justo lembrar que em 2012 se recordaram os 156 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao director das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol.
Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista “Arquivo do Distrito de Aveiro”, em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves:
Farol nas proximidades da barra
«Há por bem sua majestade el-rei [D. Pedro V] ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, — devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância.
Sua majestade manda, por esta ocasião, prevenir o sobredito funcionário de que encomendará em França, para ser estabelecido no mencionado local, um farol lenticular de segunda ordem, do sistema de mr. Fresnel, e semelhante ao que se destina para o Cabo Mondego, cujo desenho se lhe envia, com a diferença, porém, de ser girante para o distinguir dos faróis que ficam ao norte e ao sul daquele porto.»
A Barra de Aveiro tinha sido aberta em 1808 e eram conhecidos os riscos que ela oferecia à entrada das embarcações, «com prejuízos que podem resultar à humanidade e ao comércio», como se sublinha na referida portaria.
No mesmo artigo de Francisco Ferreira Neves, diz-se que a comissão nomeada para a determinação do local em que deveria ser construído o farol deu o seu trabalho por concluído em 11 de Julho de 1858. Entretanto, os naufrágios sucediam-se entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro, «por falta de sinalização luminosa nesta parte da costa marítima».
Os trabalhos não foram tão céleres quanto seria de desejar, o que levou o ilustre parlamentar José Estêvão a pedir ao Governo, em 4 de Julho de 1862, na Câmara dos Deputados, a construção de um farol na nossa costa. No ano seguinte, em 15 de Setembro, a Câmara Municipal de Aveiro apresentou a el-rei D. Luís uma exposição, requerendo a edificação de um farol ao sul da barra.
Para justificar a sua petição, a autarquia aveirense recorda que importa evitar «os naufrágios que tão frequentes se têm tornado nestes últimos tempos, no extenso litoral entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro».
E acrescenta:
«Ninguém pode duvidar, Senhor! que numa costa tão extensa como acidentada, em que as restingas ou cabedelos se formam por a violência das correntes, cuja direcção varia diariamente, um farol evita que os navios, se singram próximo da terra, se enganem no rumo, vencendo as dificuldades da navegação sem correrem o risco de naufragar nos bancos de areia, às vezes em noites bonançosas, como infelizmente tem sucedido entre nós.»
A resposta do Governo não tardou. No dia 26 de Setembro de 1863, uma portaria governamental ordena que se fizesse o projecto e o orçamento. O projecto foi concluído em 5 de Abril de 1884 e os trabalhos da construção iniciaram-se em Março de 1885.
A inauguração oficial do farol aconteceu em 31 de Agosto de 1893. O aparelho iluminante foi ligado e posto a funcionar em 15 de Outubro do mesmo ano.
Na inauguração, presidida pelo ministro das Obras Públicas, Bernardino Machado [futuro Presidente da República], estiveram presentes os membros da Câmara Municipal de Ílhavo e o prior da Freguesia, Dr. Manuel Branco de Lemos, como informa o Padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha.
Fernando Martins
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