sábado, 9 de julho de 2016

Alda Casqueira Fernandes em entrevista ao Timoneiro

“Canta Comigo, Leio Contigo” 
levou histórias e música 
a três mil crianças durante o presente ano letivo 

Alda - A artista
Alda - Apresentação do projeto
Alda - Encontro com marina à vista
Alda com a filha Alice
Alda connosco 
Quando desembarquei do avião que me levou até S. Miguel, Açores, ocorreu-me a ideia de entrevistar um conterrâneo nosso ali radicado, desde que tivesse uma história de vida interessante para partilhar com os leitores do Timoneiro. Mal as redes do ciberespaço denunciaram a nossa estada em Ponta Delgada, logo surgiu, com toda a naturalidade, a Alda Casqueira Fernandes, Educadora de Infância, casada com um transmontano, uma filha e residente em S. Miguel desde 2001. Aprazado o encontro para uma esplanada, com vista para a Marina, a Alda surgiu sorridente e notoriamente satisfeita para uma conversa com “gente da nossa terra”, que “soube a pouco”, no dizer dela.

«Vivo em São Miguel, desde setembro de 2001, fará no dia 27 de setembro 15 anos que aterrei aqui pela primeira vez. Foi também a primeira vez que andei de avião e fi-lo logo após o fatídico 11 de setembro, o que tornou esta minha experiência marcante, pois quem me levou ao aeroporto não me pôde acompanhar até ao embarque», disse. E acrescentou que não foi difícil a adaptação, pois foi acolhida por colegas e amigas de curso, nomeadamente, uma da Gafanha da Nazaré e outra de Fermentelos. «O ambiente escolar era agradável e fui muito bem recebida. O que me custou mais foi abandonar a família e a minha vida das canções. Foram esses os motivos que mais me prenderam e me impediram de vir para cá, mal terminei o meu curso. Mas alguma vez tinha de ser», afirmou.


Considera S. Miguel a sua segunda terra, onde se sente bem, mas também porque tem «uma qualidade de vida que não teria em Portugal Continental, caso optasse, como aqui, em trabalhar no ensino público. Seria impensável aí trabalhar perto de casa, e aqui tenho a escola a dois minutos de minha casa. Por outro lado é um ótimo sítio para criar filhos, como se costuma dizer», frisou. E reforçou as razões da sua opção quando esclareceu que «aqui não há crianças em ATL até às sete ou sete e meia da noite». E falou com entusiasmo das belezas naturais, «como pode constatar», do «acesso a programas culturais, ao contrário do que possam julgar», até porque passam por ali os melhores espetáculos.
Sabendo que a Alda é artista, escreve, compõe e canta, quisemos saber dessa sua faceta, no âmbito profissional e pedagógico. «De facto posso dizer que a minha faceta criativa nunca esteve tão em alta. Continuo a compor e a cantar, aliás, este ano letivo, foi isso que fiz “apenas”, pois estou dispensada da titularidade de turma para levar a mais e mais crianças esta minha paixão que se transformou numa ferramenta de trabalho para tantos profissionais de educação em Portugal», adiantou.
Entretanto, em 2011 criou uma página no Facebook, “O Resto São Cantigas”. E sublinhou: «Foi crescendo tanto que na data desta nossa conversa, o meu canal do YouTube conta com 3 247 336   visualizações. E é tudo aqui feito em casa, como costumo dizer, de São Miguel para o mundo.»
A Alda Casqueira tem consciência de que educar também é uma arte e as suas capacidades foram realmente aproveitadas e estimuladas pelo Departamento Curricular de Educação Pré-escolar da sua Escola Básica Integrada. E explicou: «Tendo por base este meu trabalho pessoal, foi proposto por aquele departamento que se criasse um projeto, com base nas minhas músicas, que tivesse por objetivos incentivar e estimular o gosto pela leitura; desenvolver o vocabulário e a competência comunicativa, e estimular a sensibilidade, a criatividade e a imaginação. Foi daqui que nasceu o Projeto “Canta Comigo, Leio Contigo” que levou histórias e música a quase três mil crianças durante este ano letivo. Inicialmente seria apenas implementado aqui na área da Lagoa, onde trabalho e resido, mas os convites por parte de outras escolas não tardaram e tivemos de ir mais além, eu e a colega com quem partilho esta aventura.»
Garantiu que o acolhimento não poderia ser melhor, até porque, com este projeto, «as crianças contactaram com livros aos quais nunca teriam acesso se assim não fosse». Lembrou que foi feita «a promoção de cinquenta e dois livros das metas curriculares do português, dos planos regional e nacional de leitura e outros», e aprenderam e entoaram músicas originais criadas para cada uma das sessões. E sublinha: «Uma das músicas que criei para sensibilizar para o salvamento de uma ave típica de cá, o cagarro, foi utilizada pelo Governo do Açores para duas campanhas institucionais em vigor na internet.»
Mas a Alda não se fica pela aplicação da arte no âmbito do Pré-escolar. Continua a cantar, «compor nem tanto», e a explorar a sua veia artística. Foi atriz, compositora e cantora de um grupo de teatro infantil, conheceu várias ilhas dos Açores, só lhe faltando «conhecer as ilhas Graciosa, São Jorge, Flores e Corvo». 
Em 2004, por convite, foi vocalista de Orquestra Ligeira de Ponta Delgada, na qual esteve durante sete anos, e em 2006 teve a oportunidade de cantar nos Estados Unidos da América, com um registo musical totalmente diferente, sendo o repertório composto por jazz, swing e música tradicional açoriana. E este ano, pela segunda vez, «criou a letra para uma marcha de Santo António», à qual deu também a voz. No fundo, tem «trilhado vários caminhos, mas que vão dar sempre ao mesmo destino, ou seja, o palco».
Sempre que pode vem à Gafanha da Nazaré. «Só tenho pena que não haja uma ponte, para poder ir mais vezes. As saudades da família são muitas, mas o tempo vai fazendo com que nos habituemos à distância». Geralmente vem à sua e nossa terra duas vezes por ano, no Natal e nas férias de verão. Mas o tempo é sempre curto, uma vez que tem que o dividir com Bragança, terra do seu marido.
Celebrou o seu matrimónio na igreja matriz da Gafanha da Nazaré, «…mas até aí levei Açores, pois o cantor da cerimónia era o vocalista da minha orquestra. A tradição manda que o casamento seja na terra da noiva, e assim foi. Quanto ao batizado da filha, como não há esse protocolo, foi realizado na aldeia do meu marido».

Fernando Martins

Notas:
1. Entrevista feita para o Timoneiro, complementada por e-mail;
2. O número de visualizações no YouTube foi atualizado.

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