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A excursão

Um texto de Joaquim Duarte 


São decorridos uns bons 30 [60] anos, a passar, desde que se fez aquela excursão ao Sul, organizada pelo Mestre Rocha, figura ímpar da Gafanha, homem de acção, e a quem se deveu, pode dizer-se, o primeiro estudo aéreo fotográfico da Gafanha da Nazaré! Tratando-se, embora, de um homem de reduzidas habilitações literárias, soube valorizar-se à custa de grande esforço. Na sua humildade, mas de personalidade bem vincada, dominou muitos anos a política local, desempenhando a preceito o papel de presidente da Junta de Freguesia. Na Aviação, em S. Jacinto, soube guindar-se pelo seu aprumo e saber — era um excelente artífice — até chegar ao posto de Mestre entre o pessoal civil que, ao longo de várias décadas, tem dado o melhor do seu esforço, primeiro no Ministério da Marinha e depois, como actualmente, à Força Aérea. 
O Mestre Rocha, para além disto tudo, e daquilo que fica por mencionar, era ainda um excelente organizador, como provou na excursão que fizemos, e eu também tive oportunidade de seguir viagem ­— integrado à última hora por falta de confirmação de uns tantos.
A fotografia que ilustra o texto mostra algumas figuras da Gafanha, umas ao serviço da Aviação e outras que se integraram talvez pelas mesmas razões a substituir os faltosos…
Alguns nomes citados ao acaso, e sem preocupação de prioridade, poderão ajudar o provável leitor a descobrir na foto, esvaída pelo tempo, algumas dessas figuras. O Merendeiro, de cócoras ao meio, o Catraio, pintor, as manas Caleiro, o Cirino, cunhado do Júlio de Aveiro, que se encontra nos Estados Unidos, o Batista, pintor, muito da casa do Dr. Ribau, ao lado da mulher, o João, alfaiate, que morava lá para os lados da Cale da Vila, o autor destas linhas [Joaquim Duarte] metido entre o Batista e o João Pinto Reis, recentemente falecido. Penso que a foto foi tirada pelo então sargento Pinheiro, como se pode avaliar pela presença da esposa. Outros ainda como o João, fundidor, que vive em Aradas, o Carvalho latoeiro, as consortes …
Julgo que a fotografia foi tirada em Colares e falta aqui o Professor Ramos, que também ia na excursão e quase nos fez perder tempo no cumprimento do horário — o Mestre Rocha era compreensivo — quando o Senhor Professor ficou estático a admirar as ruínas de Conímbriga e nada fazia retirá-lo da posição de postura, sonhando talvez, com a ida e vinda dos romanos pelas galerias a descoberto!
Tempos que foram e jamais voltam, mas que marcam um período, uma época, de desenvolvimento da Gafanha…

Joaquim Duarte

Nota: Texto e foto publicados no “Boletim Cultural” da Gafanha da Nazaré, n.º 3, com data de 1989.

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