A Filarmónica Gafanhense é uma instituição cuja história não pode cair no esquecimento. Sendo a mais antiga associação musical do concelho de Ílhavo, ela precisa de ficar assinalada como digna de mérito e do seu passado, com origem na sede do nosso município. Os registos históricos não podem escamotear a verdade. Por isso, neste escrito, pude escrever o que foi possível averiguar. Urge, contudo, continuar a atualização dos dados, sem perder o fio à meada. Nessa linha, peço à atual direção e a outras pessoas elementos para que seja viável a sua sintetização. Fico, pois, a aguardar.
I — Introdução
A Filarmónica Gafanhense, a mais antiga coletividade musical
do concelho de Ílhavo e herdeira do trabalho incansável de muitos ilhavenses,
quer continuar a crescer, dinamizando o ensino da música e levando, bem longe,
o nome das terras que a viram nascer, há mais de 170 anos. Sendo certo que uma
banda se alimenta do esforço dos seus dirigentes, que dia a dia procuram atrair
gente jovem que garanta o seu futuro, cada vez mais risonho e atuante, ao nível
cultural, também é verdade que o empenho de todos, populações, autarcas e
outras entidades, estatais e privadas, é fundamental e urgente. Com a
cooperação amiga e solidária dos ílhavos, sejam eles da sede do concelho ou das
Gafanhas, tudo se tornará mais fácil, no sentido de proporcionar à Música Velha
(cognome que herdou de tempos áureos, que já lá vão há muito) as melhores
condições para mais fazer pela cultura da rainha das artes, que é a música.
Urge, pois, que ilhavenses e gafanhões saibam unir esforços,
numa linha de respeito pelas nossas tradições e pelo nosso passado histórico,
que têm mostrado do que são capazes as nossas gentes, quando mutuamente se
apoiam para alcançarem objetivos comuns. Nessa linha, a nova sede, ansiada por
tantos dirigentes e associados, e prometida há anos pelas mais diversas forças
políticas, virá contribuir, assim cremos, para que a Filarmónica Gafanhense
ocupe um lugar de destaque no panorama musical regional e até nacional.
II — A Música Velha não podia morrer
A Música Velha não podia morrer. E para não morrer, tinha de
mudar e de criar incentivos, atraindo aprendizes com vontade de continuarem na
banda, depois de se tornarem executantes minimamente à altura. Tinha pouco mais
de meia dúzia de executantes. Mas até esses, sentindo a falta de apoios à
Filarmónica e o abandono da maioria, chegaram a perder algum entusiasmo. Os
poucos que restavam eram de Vale de Ílhavo, Lavandeira, Moitinhos, Bonsucesso,
Gafanhas e Ílhavo. Dois de Ílhavo, pouco tempo tocaram na Música Velha, que se
viu sem ajudas de qualquer entidade ou instituição, e sem o trabalho de
ilhavenses apaixonados por este género musical, de tantas e tão antigas
tradições na vila.
Em Abril de 1972, e numa última tentativa de salvar a Música
Velha, os músicos que ainda permaneciam fiéis colocaram na regência um dos
executantes resistentes. Dionísio Claro dos Santos Marta, natural de S.
Salvador, Ílhavo, e residente na Gafanha da Nazaré, impôs apenas uma condição
para aceitar o cargo: que fosse criada uma Escola de Música. Foi assim que o
novo e inexperiente regente salvou a Filarmónica. Passou a deslocar-se a Ílhavo
duas vezes por semana para dar lições de música a novos aprendizes.
Infelizmente, contudo, a breve trecho ficaria sozinho e sem aprendizes, já que,
em Ílhavo, não havia quem quisesse aprender música. Mas se em Ílhavo se
verificou o desinteresse total pela aprendizagem da música, com destino à
banda, na Gafanha da Nazaré começaram a surgir jovens que queriam aprender e
que almejavam vestir a farda da Filarmónica. Até meados de 1982 foram muitos os
dirigentes que ficaram à frente da Associação. Nesse mesmo ano, no dia 30 de
Abril, um grupo de cidadãos funda oficialmente a Escola de Música Gafanhense,
na Gafanha da Nazaré, pois era nesta vila que apareciam jovens interessados em
aprender música. O objetivo desta escola recém-criada, desprovida de sede
social e em regime de coabitação com a Filarmónica Ilhavense, era a formação
musical dos seus sócios, através do pagamento de uma quota simbólica anual. A
escola e a banda tinham como principal preocupação a formação de novos músicos,
trabalhando assim em estreita colaboração para o desenvolvimento cultural da
Gafanha da Nazaré.
III — Filarmónica
Ilhavense passa a Filarmónica Gafanhense
Durante as décadas de 80 e 90 do século passado, os sócios e
executantes da Filarmónica organizaram vários peditórios e desenvolveram
diversas atividades culturais na vila da Gafanha da Nazaré e noutras
localidades. Foi uma forma, com base pedagógica, de angariar fundos para
alimentar o projeto de construção de uma sede social que albergasse as duas
associações. Anos mais tarde, já a Escola de Música Gafanhense tinha bastantes
sócios, uma determinada quantia em dinheiro e um património significativo, uma
vez que tinha adquirido um terreno para se construir uma sede.
Em princípios de 1986, a Associação Musical Filarmónica
Ilhavense começou a festejar a passagem dos 150 anos da sua existência, e no
dia 24 de Abril do mesmo ano foi feita uma escritura na Secretaria Notarial de
Aveiro, titulando a constituição de uma associação já existente desde 1836,
agora denominada ASSOCIAÇÃO MUSICAL FILARMÓNICA ILHAVENSE, com sede na Vila e
Concelho de Ílhavo, que passava a reger-se pelos estatutos então criados.
Entretanto, várias iniciativas culturais continuaram a ser
levadas a cabo, no âmbito das referidas comemorações, tendo sido lavrada, no
dia 13 de Outubro de 1986, na Secretaria Notarial de Aveiro, uma nova
escritura, desta vez para alteração dos estatutos. Com essa alteração, ficou
estabelecida a mudança de sede social da Música Velha para a Gafanha da Nazaré.
A Associação Musical Filarmónica Ilhavense passou a designar-se, estatutariamente,
FILARMÓNICA GAFANHENSE, como veio exarado no Diário da República, nº 273, de 26
de Novembro de 1986.
IV — O desinteresse
de uns e o interesse de outros
Uma página da história da Música Velha acaba de ser virada.
O desinteresse de uns e o interesse de outros, com decisões tomadas em local
próprio e pelos próprios interessados, para além das circunstâncias atrás
referidas, culminam nestas alterações. É então criada a Filarmónica Gafanhense,
instituição que, embora sedeada na Gafanha da Nazaré, é, sem dúvida, uma
entidade cultural ao serviço do povo e do Concelho de Ílhavo, que muito o
dignifica. Das eleições realizadas em 18 de Junho de 1999, sai vitoriosa uma
nova direção para a Escola de Música Gafanhense, a qual redefine e clarifica a
sua situação de coabitação com a Filarmónica Gafanhense, que até então tinha
como sede provisória a casa de Dionísio dos Santos Marta, onde se guardava todo
o espólio de ambas as coletividades. Foi decidido dar-se um novo rumo à Escola,
procedendo-se, assim, à separação definitiva das duas associações. Tendo estas
duas associações diferentes direções, existia, teoricamente, uma ponte de
informação e ligação entre ambas. Era ela Dionísio dos Santos Marta, elemento
comum às duas direções e conhecedor dos diferentes estatutos, ignorados, em
parte, pelos sócios da Filarmónica Gafanhense. Os seus diretores, os únicos
sócios da mesma, eram os músicos executantes, que regiam as duas associações.
Em 24 de Setembro de 2001, Dionísio Claro dos Santos Marta,
devido a divergências com o novo presidente da direção da Filarmónica
Gafanhense, eleito em Fevereiro do ano anterior, abandona esta associação e os
cargos de diretor artístico e de presidente da Assembleia Geral da mesma. Com a
separação destas duas instituições, a Filarmónica Gafanhense volta à estaca
zero, no referente ao projeto de construção da sua sede e de ter uma escola de
música na sua estrutura, para assim poder contar sempre com mais e melhores
executantes. A partir desta altura, a coletividade recomeçou a trabalhar, no
sentido de aumentar a sua credibilidade artística, cultural e social, bem como
de servir a população da Gafanha da Nazaré e o Concelho de Ílhavo, com mais
amor e dedicação. Há jovens que por aqui passaram como aprendizes, sendo
alguns, presentemente, músicos profissionais, com cursos superiores de música,
que muito têm dignificado a nossa terra.
V — A Filarmónica Gafanhense não pode parar
A Filarmónica Gafanhense não pode parar. Executaram-se
várias reformas e houve melhorias nas partes melódicas, harmónicas, percussão e
até visual. Entre 1985 a 1990, todo o instrumental foi substituído por novas
aquisições, tendo por base o “Lamiré normal”. Em 2001, após convite formal,
assumiu o cargo de diretor artístico o músico Arnaldo Manuel Seiça Ribeiro, da Gafanha
de Aquém, freguesia de S. Salvador, Ílhavo, onde nasceu em 1957. Iniciou os
seus estudos musicais de solfejo e clarinete em 1964, sob orientação de seu
pai, músico executante de clarinete na Filarmónica Ilhavense. De 1965 a 1969,
frequentou as classes de solfejo e acordeão, sob a orientação da professora
Rosa da Silva Matos, participando, enquanto aluno desta professora, em espetáculos
públicos, em diferentes localidades. Entre os anos de 1969 a 1971, integrou a
Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo (Música Nova), como executante de
clarinete, sob a direção de Luís Catão. Em 1980, ingressa no Conservatório de
Música de Aveiro “Calouste Gulbenkian”, na classe de piano e composição. Entre
os anos de 1971 e 1999, integra grupos musicais de diferentes estilos, tendo
efetuado diversos concertos por todo o País. Participou em vários festivais de
música ligeira, como compositor e intérprete, tendo efetuado inúmeros registos,
gravando discos e participando em espetáculos ao vivo, com cantores de música
ligeira. Lecionou a disciplina de Expressão e Educação Musical no ensino
oficial desde 1981, tendo sido professor titular da classe de Acordeão no
Conservatório de Aveiro, entre 1986 a 1989. Em paralelo, tem desenvolvido
funções pedagógicas nas áreas da formação musical, em piano, órgão e acordeão.
Frequentou o Curso de Direcção de Bandas com o professor Robert Houlihan.
A partir de Novembro de 2003, Fernando Manuel Tavares Lages,
nascido a 18 de Junho de 1962, na Freguesia da Junqueira, Concelho de Vale de
Cambra, assumiu a direção artística da Filarmónica Gafanhense. Iniciou os seus
estudos musicais na banda da sua terra, com 13 anos de idade, tendo ingressado
na Banda de Música da então Região Militar Centro, sedeada em Coimbra, em 1979,
aos 17 anos, como voluntário, onde permaneceu até 1982. Durante vários anos
passou por outras bandas militares e em 1998 foi convidado a assumir a direção
artística da Banda Recreativa União Pinheirense, onde permaneceu durante quatro
anos. Em 2002, frequentou o curso de direção de banda orientado pelos
professores Robert Houlihan, Adelino Mota e Carlos Marques.
VI — A Filarmónica Gafanhense na atualidade
No âmbito de uma parceria estabelecida com a Câmara
Municipal de Ílhavo e do reconhecimento da capacidade de a coletividade assumir
e gerir compromissos de relevância cultural, a autarquia ilhavense concedeu, em
Março de 2005, em sessão solene, à FILARMÓNICA GAFANHENSE, a Medalha de Ouro do
Concelho, sendo a mais alta condecoração Municipal entregue a esta instituição.
Os dirigentes, executantes e sócios, tal como os autarcas do
Concelho de Ílhavo, anseiam por uma sede social condigna para que esta coletividade,
a mais antiga da região, possa, num futuro próximo, satisfazer os seus objetivos
ligados à cultura musical. Sempre no sentido de cada vez mais procurar novos e
grandes valores para a música, e de continuar a animar culturalmente a terra
que a acolheu e o concelho a que pertence, e não só, durante muitos anos.
No dia 14 de Março de 2006 foram eleitos os novos membros
dos órgãos sociais, para o biénio 2006-2007, numa perspetiva de prosseguir o
trabalho até ao presente desenvolvido, apostando, no entanto, em acompanhar a
dinâmica dos tempos que correm, para bem da cultura musical.
Os cargos ficaram assim distribuídos:
Assembleia Geral
Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola
1.º Secretário, João Paulo da Silva Nunes
2.º Secretário, António Fernandes Teixeira
Conselho Fiscal
Presidente, Manuel Santos Ribeiro
Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos
Vogal, Marco José Pereira Santos
Direção
Presidente, Carlos Sarabando Bola
Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola
Secretário, Ana Paula Jesus Bola
Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo
Vogal, António Manuel Bernardino Santos
Suplentes
João Fernandes Teixeira, Paulo Sérgio Oliveira Soares, Pedro
Manuel Gonçalves Ferreira, Rosa Maria Nunes Paiva, Hélio Ribau das Neves
É justo salientar, ainda, que em Outubro de 2006 a Filarmónica
Gafanhense foi inscrita no INATEL, ficando com o n.º 4966. E em 2007, além do
seu maestro Fernando Manuel Tavares Lages, a Filarmónica é constituída por 40
executantes, com idades compreendidas entre os nove e os 73 anos, distribuídos
pelos mais diversos instrumentos. A formação de novos músicos está entregue aos
professores Ricardo Paulo Ferreira Constantino, João Fernandes Teixeira, Paulo
Renato Jesus Bola e Alcino Marçalo Santos Patoilo.
Fernando Martins
NOTA: Estou a diligenciar para atualizar este escrito.
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