A Gafanha da Nazaré está cheia
de muitos e bons músicos
de muitos e bons músicos
João Álvaro Teixeira da Rocha Ramos, 65 anos, casado com Maria Ondina, tem dois filhos e dois netos, é engenheiro eletrotécnico aposentado e organista há 50 anos, fundamentalmente na paróquia da Gafanha da Nazaré.
Começou muito cedo a gostar da música. Acompanhava regularmente sua mãe e tias, respetivamente, Dona Vitória, Menina Aurélia (como era tratada com carinho) e Dona Maria, as conhecidas Caçoilas, ao terço e à missa. Eram pessoas muito devotas e sempre participavam nos grupos corais.
Quando terminou o Ensino Primário, o João Ramos ingressou no seminário, tendo frequentado as aulas em Calvão e em Aveiro, durante quatro anos. Aí recebeu lições de música dos padres Redondo, Arménio e Valdemar, mas foram os dois primeiros os que mais o marcaram. O padre Redondo, porém, foi o mais importante até porque era organista nas missas solenes, em latim, que se celebravam na igreja matriz da Gafanha da Nazaré, cujo coral era ensaiado e dirigido pelo mestre Manuel Maria da Rocha Fernandes Júnior — o senhor Rocha.
Aprendeu solfejo e começou a tocar por música, mas com o decorrer dos anos reconhece que tem bom ouvido para não precisar da pauta. Tantos anos a tocar deram-lhe esse dom de se sentar ao órgão e começar logo, afinado, nos tons precisos, para os corais, por esta forma, louvarem a Deus com lindíssimas melodias.
Evoca, decerto com saudades, algumas pessoas de quem foi mais próximo nesta sua colaboração na paróquia. Para além do padre Redondo e do senhor Rocha, a sua mãe e tias, as Crisantas (duas irmãs), A Dona Arminda Ribau, a Dona Arminda Gandarinho e o senhor José Elviro, com voz de baixo, entre muitos outros. Recorda os Tríduos e festas com missas cantadas, sublinhando o empenho de todos os participantes.
O João Ramos, com tantos anos de organista, praticamente só precisa do treino próprio dos ensaios para acertar os cânticos, que o resto já ele sabe de cor. Mas não se julgue que ele somente tocou e toca órgão na igreja matriz, pois já colaborou com os corais da Sé de Aveiro e da igreja da Chave.
Sobre os músicos que mais aprecia, o João Álvaro Ramos diz que gosta muito de Mozart, mas a sua preferência vai fundamentalmente para Bach. «A música de Bach é a que mais nos aproxima do divino; a música traduz sentimentos sobrenaturais, enquanto nos eleva; Bach atingiu o expoente mais elevado.» E quanto a organistas, realça: «o que mais gosto de ouvir tocar Bach, neste momento, é o alemão Hans Andre Stamm; passo horas a ouvi-lo em casa».
Sublinha que a música faz parte da sua vida, «ora como executante, ora como ouvinte». Reforça a ideia da importância das artes musicais, dizendo que «a vida é música», e acrescenta: «A música é a arte de produzir sons agradáveis ao ouvido, mas há por aí tanta desagradável...»
Garante que é necessário ter uma certa inclinação para executar qualquer instrumento, mas adianta que é preciso treinar muito. «É fundamental a prática diária de várias horas e ter um certo dom, mas 99 por cento é suor.» E diz que «a mesma música tocada em dias diferentes para públicos diferentes também é diferente, conforme a inspiração do executante na altura».
João Álvaro sublinha que a Gafanha da Nazaré está cheia de muitos e bons músicos e diz que no coral em que é organista há a preocupação de respeitar as normas litúrgicas.
Não se julgue, porém, que o João Álvaro Ramos ficou apenas pela música litúrgica. Não, ele teve e ainda tem uma vida cheia de música. Participou em grupos que atuaram na Mini-Feira Popular organizada pelo Padre Miguel Lencastre, na década de 70 do século passado, com o sentido de aproximar os paroquianos dos diversos lugares. Foi um dos fundadores do grupo “Pop-Men” nos anos de 1966/67, atuou numa Tuna na Gafanha da Nazaré que «morreu ao nascer», e presentemente faz parte no grupo de Fados de Coimbra, onde pontificam, para além do João, os irmãos Serafins (José Maria e Manuel) e o Rogério Fernandes, entre outros. Uns saem por motivos pessoais enquanto entram outros, sobretudo para cantar.
Enquanto professor, o João Álvaro, que passou por Albergaria, Estarreja, Gafanha, Aveiro e Vila Pouca de Aguiar, fez questão de se envolver na música. E sobre os seus antepassados, diz que o seu avô Ramos tocava flauta, instrumento que ainda conserva em sua casa com muito carinho, havendo também músicos do lado dos Teixeiras. E em casa, com os seus irmãos, quando eram mais novos, até tocavam jazz.
Gosta do cavaquinho e com amigos (Manuel Correia e Eneida, Odete, Lisete, Custódia, João Roque e esposa), em bons convívios, tocam «umas cavacadas».
Fernando Martins
Nota: Entrevista para o jornal Timoneiro
Nota: Entrevista para o jornal Timoneiro
1 comentário:
Ainda deve saber «de cor» o Let It Be, com aquele curto solo de órgão, à maneira dos ensaios de preparação para as festas de catequistas (e não só), no Salão Paroquial. Solos que ainda ecoam...
Parabéns!
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