quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Envelhecimento ativo: Uma urgência para o nosso tempo


1. Não é novidade para ninguém que os avanços extraordinários das ciências médicas e outras, associados às campanhas generalizadas e em atualização permanente, relacionadas com a alimentação regrada, com a higiene e estilos de vida saudáveis, muito têm contribuído para o aumento significativo da esperança de vida. No último século, o crescimento foi notório e isso foi muito bom, rondando presentemente os 80 anos, para homens e mulheres. 
Entre nós, tanto quanto se sabe, tendo em conta a implementação do chamado Estado Social, com o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, cresce exponencialmente e bem o número de aposentados e reformados, muito embora, e como é sabido, a grande maioria esteja a receber pensões insuficientes para uma vida digna. 
Pelas notícias vindas a lume, e sem querer entrar em seara alheia, que esse campo está entregue a académicos e demais estudiosos do tema, temos de convir que há cada vez mais idosos com baixíssimas fontes de rendimento e menos jovens e adultos no mundo do trabalho, de onde vêm as receitas para a sustentabilidade do Estado Social. Isso significa que, para os idosos, apesar da esperança de vida continuar em crescendo, a qualidade de vida não está nem estará tão cedo garantida, como se confirma, de forma insofismável, pela realidade. 

2. Diz o Papa Bento XVI, numa visita que fez a uma instituição da comunidade católica de Santo Egídio, em Roma, em novembro de 2012, integrada na celebração do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, como li na Agência Ecclesia, que «A qualidade de uma sociedade, gostaria de dizer de uma civilização, julga-se também pela forma como os idosos são tratados e pelo lugar que lhes é reservado na vida em comum. Quem dá espaço aos idosos dá espaço à vida». Nesse pressuposto, importa que as nossas comunidades comecem a olhar com mais atenção para os menos jovens, muitos dos quais, retirados da vida profissional que lhes estimulava a autoestima, se encontram desmotivados e na triste situação de quem espera, porventura ansioso, o fim da existência terrena. 
As famílias, com limitações económicas, sem espaços nas suas residências e sem tempo para acompanharem os seus velhos, deixam-nos um pouco sós e entregues à suas recordações. Porém, diga-se em abono da verdade que são as famílias quem mais apoia, apesar de tudo, os seus anciãos. As doenças próprias da velhice e as limitações físicas e não só impedem-nos de procurar o convívio com os seus iguais e com outras gerações, e raramente podem contar com os mais novos, que estão absorvidos com os seus futuros académicos, profissionais e familiares. Somos, pois, uma sociedade com mais velhos, que não podem cair em tristezas nem em abandonos. Aliás, as nossas comunidades estão repletas de pessoas em situações dramáticas, desempregadas e sem futuro risonho à vista, por força da crise social, económica e financeira resultante de um capitalismo selvagem, sem ética, que menospreza a dignidade das pessoas reais. 

3. A sociedade, contudo, procura, pelos mais variados meios, responder aos problemas sociais. Multiplicam-se os Lares de Idosos, os Centros de Dia, os Espaços de Convívio, os Hospitais de Cuidados Continuados, mas também já se fala, com visão de futuro próximo, da necessidade de Centros de Noite, para aqueles que não podem nem devem ficar entregues à sua sorte, sozinhos, em suas próprias casas. Têm surgido, nos últimos tempos, mortes de idosos nessa situação, encontrados, em alguns casos, muito depois do fatídico acontecimento. 
Urge, portanto, implementar o espírito de vizinhança ou de proximidade junto dos mais velhos e mais sós, patrocinando uma solidariedade responsável e atenta, levada à prática pelas gerações mais novas, respondendo desta forma à impossibilidade ou dificuldade que muitas instituições têm de atender todos os pedidos, mas ainda ao desejo legitimamente manifestado pelos mais velhos de permanecerem nos seus ambientes naturais. 
No momento citado anteriormente, Bento XVI exortou as famílias e instituições públicas a tudo fazerem para que os idosos «possam permanecer nas suas próprias casas», enquanto defendeu que os mais velhos representam «uma grande riqueza», pela sabedoria acumulada durante as suas vidas longas. O Santo Padre ainda adiantou que conhece «o sofrimento de quem é marginalizado, vive longe da sua própria casa ou está na solidão». 

4. Os que refletem sobre o número cada vez mais alargado das pessoas idosas, reformadas e aposentadas, sabem que é preciso aprender a envelhecer bem, vivendo o presente e tendo projetos de futuro adequados à realidade de cada um. Isso passa, necessariamente, pelas pessoas e pelos que podem e devem estimulá-las, tendo sempre em consideração que urge assumir os velhos como centros fundamentais de novos desafios a empreender individualmente e pela sociedade. 
É preciso provocar o envelhecimento ativo, promovendo comportamentos saudáveis, criando ambientes amigáveis e favorecendo a afetividade, ao mesmo tempo que se torna imperioso capitalizar as experiências e os saberes acumulados ao longo da vida pelos nossos anciãos. Afinal, se estivermos atentos e conscientes da importância e da riqueza que a velhice comporta, compreenderemos que os idosos nos dão lições de vida, pelo que fizeram e ainda podem fazer em prol da família e da comunidade. Eles são, em suma, uma fonte inesgotável de contributos sociais, profissionais e éticos, que não podem ser ignorados, antes devem ser assimilados pelas gerações mais jovens. 

5. Complementar a tudo quanto se possa dizer e fazer, penso que é pertinente dar mais vida à vida dos idosos. Deixá-los entregues a si próprios, marginalizados ou esquecido, é um crime de lesa-humanidade. Será difícil, em alguns casos, motivar os mais velhos para que continuem ativos, envolvidos nas suas comunidades, mas não será impossível. Tenho para mim que os mais velhos são autênticos livros abertos que é preciso ler. As suas vivências profissionais, culturais, sociais, desportivas, espirituais ou outras têm de ser partilhadas, na perspetiva de que ninguém será tão pobre que não tenha nada para dar, nem tão rico que não tenha nada para receber. 
Os menos novos, reformados ou aposentados, podem muito bem, se forem motivados para isso, aplicar as suas disponibilidades, depois de devidamente preparados para tal, no voluntariado, nas visitas e acompanhamento de doentes, no apoio aos netos, na ajuda a familiares, no envolvimento cultural, na prática das artes. Quantos haverá que nunca puderam dar largas à sua imaginação, através das mais diversas expressões artísticas, mas ainda na jardinagem, na horticultura, na fotografia e no artesanato? E quantos nunca tiveram a oportunidade de visitar museus, ouvir conferências, visitar e participar em exposições, ver cinema com alguma regularidade, ler um bom livro, escrever um poema, assistir a um concerto, vibrar numa competição desportiva, visitar um amigo, participar numa cerimónia religiosa ou de pendor espiritual, passear num jardim ou frequentar uma praia? 

Fernando Martins

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